Gota d’Aga

Por GN em

Gota d’Aga, 1984. Em pé: Lúcio Vieira, Vasco Martins, Tony Miranda, Voginha, Dany Mariano e Vlu. À frente: Blimundo. Fonte: Internet

Grupo, 1984 – 1988

Gota d’Aga foi um grupo formado no Mindelo, por Voginha  (guitarra elétrica), Vasco Martins (piano elétrico e sintetizador), Lúcio Vieira (baixo), Bulimundo (bateria) e Tony Miranda (percussão). Nos temas cantados atuavam Dany Mariano e Vlú. Foi a partir dos interesses musicais destes jovens e da sua energia para fazer algo novo que nasceu o festival da Baía das Gatas, que com o tempo veio a ser um dos maiores eventos musicais de Cabo Verde.

Talvez numa alusão aos temas de intervenção política que tanto sucesso fizeram nesses primeiros anos de Cabo Verde independente, o grupo se assume como “de intervenção musical”, segundo uma notícia do jornal Voz di Povo (28.07.1984), relatando um dos concertos do Gota d’Aga na Galeria Nho Djunga (espaço cultural com grande dinamismo na época, no Mindelo). Era nesse espaço que ensaiavam e atuavam habitualmente, com parte dos instrumentos emprestados pelas Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP), designação que tinha então o exército cabo-verdiano.

 O grupo “assume-se como a nova geração da música cabo-verdiana, não escusando as influências do jazz e do rock”, lê-se no Voz di Povo, que dá conta da grande recetividade que o Gota d’Aga encontra no público jovem: “É uma música cheia de tensão”, “A música está mesmo dentro da malta jovem, e nós gostamos desta”, afirmam espetadores ouvidos pelo jornal. Num texto de Dany Mariano, este recorda que o nome veio de uma sugestão de Vasco, porque, segundo ele, a música que faziam “era uma gota no oceano musical de então”.

Cartaz de uma atuação do Gota d’Aga. Fonte: Internet

A atitude inovadora para os padrões locais que o grupo encarna, ao introduzir sintetizador e propor uma linguagem jazzística, enfrenta resistências da parte dos mais conservadores, como se pode inferir por esta declaração de Vasco Martins: “Quando não compomos a eterna morna e a eterna koladera há intelectuais que nos põem de lado considerando que não somos cabo-verdianos. A nossa música mesmo que seja diferente é de intervenção cabo-verdiana. É feita por músicos cabo-verdianos. Um inglês faria diferente”, declara ao Voz di Povo (28.07.1984).

“Quando não compomos a eterna morna e a eterna koladera

há intelectuais que nos põem de lado

considerando que não somos cabo-verdianos.”

Vasco Martins, em entrevista ao Voz di Povo, 28.07.1984

 O grupo realizou muitos concertos, em geral bastante concorridos. Numa dessas ocasiões, recorda Voginha ao Expresso das Ilhas muitos anos depois (10.05.2007), “surgiu a ideia de atuarmos num espaço mais amplo, de preferência ao ar livre, destinado ao grande público. A ideia foi ganhando maior consistência, e depois de muitas propostas, prevaleceu a ideia de que o concerto deveria ser realizado na Baía das Gatas. Na altura estávamos sob a influência do filme do festival Woodstock que nos serviu de modelo”. É assim que, em agosto desse ano, realiza-se o primeiro festival da Baía das Gatas.

O Gota d’Aga, por seu lado, terá durado até 1988 –  uma notícia do Voz di Povo dá conta de uma atuação na Praia nesse ano. Nesta altura, dos membros antigos só resta Vasco Martins. Os outros são: Tchalé Figueira e Djini Ribeiro (percussões), Pinúria (baixo) e Tim Reis (bateria) (Voz di Povo, 27.01.1988). Outros nomes que passaram pelo grupo: Calú d’Wings (baixo), Tony Miranda (percussão) e o francês Yves La Maisson.

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