Lela Violão

Por GN em

Lela Violão nos tempos da sua participação no grupo Simentera. Imagem cedida por Lela Violão

Manuel Tomás Cruz

Mindelo, São Vicente, 1929 – Praia, Santiago, 2009

Instrumentista (violão)

No seu último disco (Tr’adictional, 2003), o grupo Simentera trazia um novo integrante: Lela Violão, septuagenário tocador deste instrumento que, após uma vida a animar bailes em ambientes populares, entra para este grupo que reuniu durante uma década uma elite social e musical, na Praia. Era a sua primeira gravação. Por essa época, conhece o alemão Martin Schaefer, líder de um grupo de música cigana na Suíça, que a partir de uma participação no Fesquintal de Jazz, em 2002, passa a visitar Cabo Verde com frequência, dando aulas de violino. Gravam juntos o CD Caldo de rabeca, produzido por Mário Lúcio e Teté Alhinho, que vem a sair em 2006.

A sua produção como compositor resume-se a duas koladeras, um samba e duas mornas. Lela Violão reivindicava a autoria da conhecidíssima koladera “Bo da’m canja” (ou “Canja”, como muitas vezes aparece indicada), apontada em capas de discos como sendo da autoria de Bilocas. A música relata uma das suas peripécias amorosas nas muitas idas e vindas que fez entre as ilhas, trabalhando como capataz nas obras públicas. Na Praia, fixa-se no final da década de 1960 e aí viverá até o fim da sua vida.

Nas suas atuações, além de incontáveis mornas de todas as épocas, desfiava um impressionante repertório de sambas, cujos títulos tinha escritos numa lista de 96 itens, grande parte só conhecida dele próprio. Em geral foram aprendidos quando criança, com brasileiros que passavam pelo Mindelo como tripulação de navios ou ouvidos ao gramofone de um vizinho, ou ainda cantados pelas irmãs mais velhas. Lela Violão contava que aprendeu música de ouvido e escondido, porque o pai não gostava. “Ele trabalhava à noite, e eu fugia, aos 14 anos saía para tocar. Ganhava dez escudos e dava cinco à minha madrasta, para ela não contar nada. Era muito dinheiro, na época. Só mais tarde, quando eu ia para a tropa, ele disse: você pensava que estava a me enganar?…”

Lela Violão é a única pessoa que conheço

que tem boas recordações

das roças de S. Tomé

Matilde Dias, no blog Lantuna

Lela Violão “é a única pessoa que conheço que tem boas recordações das roças de São Tomé”, escreveu a jornalista Matilde Dias no seu blogue cultural (http://lantuna.blogspot.com/2005/04/lela-violo-no-ccp.html). Em São Tomé, onde ficou três anos, “tocava tanto com os colegas como para os portugueses. Certa vez, fomos tocar na casa do governador. Joguei futebol, fiz teatro…”, conta. Até que um dia feriu-se com uma catana, dois dedos da mão esquerda foram atingidos. “Um deles foi embora… Fizeram uma operação fechando superficialmente, mas lá por dentro o nervo ficou afetado. Toda a gente triste, a dizer, você não vai mais conseguir tocar…”, recordava o músico. Contudo, no seu regresso a São Vicente, em 1959, foi ter com Luís Rendall, que lhe terá dito que conseguiria continuar a tocar. “Eu nunca soube ler pauta, mas aprendi todas as notas; elas entraram-me na cabeça. Sem o movimento deste dedo, tive que movimentar com mais rapidez os outros três para não perder a zona das tonalidades todas, o conjunto das notas, os acordes”, contava.

Lela Violão atua como ator no filme Cabo Verde Nha Cretcheu (2007), da realizadora Ana Lisboa.

Composição

Canja

Discografia

Caldo de rabeca – Martin Violon e Lela Violão, Praia, edição de autor, 2006.

Ver e ouvir

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