Paul Pena

Por GN em

Paul Pena. Fonte: https://mubi.com

Paul Pena

Hyannis, Massachusetts, EUA, 1950 – São Francisco, Califórnia, EUA, 2005

Instrumentista (guitarra), compositor, cantor

“De todos os filhos na comunidade cabo-verdiana na América que tiveram algum sucesso na música deste país, Paul Pena (Pina, no original) é, sem dúvida, o caso mais intrigante e curioso”. Assim escreve sobre este bluesman de origem cabo-verdiana o jornalista Joaquim Arena, no site Sapo.cv (20.04.2012, já não disponível online).

Neto de cabo-verdianos da Brava e do Fogo que já se encontravam nos EUA desde 1919, Paul Pena sofreu de glaucoma congénito, que o levou à cegueira bem jovem. Além deste, teve outros problemas de saúde, como pancreatite e diabetes, tendo falecido aos 55 anos.

Enquanto artista, bem cedo manifestou vocação para a música. Com o pai e o avô, que tocavam violão, aprendeu mornas, ao mesmo tempo que na escola participava no coro. Na adolescência, chegou a participar num concurso para jovens talentos e nos tempos da universidade tocava em bares. “Mas o primeiro grande acontecimento na sua carreira dá-se em 1969, quando tem a oportunidade de tocar no Newport Folk Festival, ao lado de nomes como James Taylor, Joni Mitchell e Kris Kristofferson”, refere o site com a sua biografia, indicando que um ano depois o jovem ficou completamente cego. Esse facto, contudo não o impediu de se transferir para São Francisco e gravar o seu primeiro disco: Paul Pena, editado em 1972 pela Capitol Records.

Paul Pina na infância. Fonte: www.paulpena.com

Com a sua voz rouca e composições marcantes, atraiu atenções no mundo dos blues. O seu maior êxito, que entrou para os tops nos EUA, foi “Jet airliner”, na gravação, de 1976, da Steve Miller Band, uma das principais bandas norte-americanas de blues-rock dos anos 1970. Por desentendimentos com a Bearsville Records, com a qual tinha contrato, durante quase três décadas Paul Pena ficou longe dos estúdios, havendo dessa época apenas gravações ao vivo, de participações em festivais ou concertos de outros artistas em que aparecia como convidado: casos de John Lee Hooker, B.B. King, Muddy Waters, entre outros. Só 27 anos depois sai o seu segundo disco, New Train (2000).

Em 1984, certo dia ouviu numa rádio de ondas curtas um trecho de um canto que o fascinou. Passou anos a tentar identificar o que era, e em 1991 descobriu um disco intitulado Tuva: Vozes da Ásia Central, com música tradicional de Tuva, uma das antigas repúblicas da União Soviética. Decidiu então aprender aquela técnica vocal e dois anos depois veio a conhecer Kongar-ol Ondar, um expoente neste tipo de canto. Fez-lhe uma demonstração do que sabia, e a sua performance surpreendeu o artista de Tuva, surgindo daí uma amizade e projetos em conjunto.

Paul Pena tocando com o pai. Fonte: www.paulpena.com

Em 1995, Kongar-ol convida-o para cantar num festival no seu país. Paul Pena foi, assim, o primeiro norte-americano a participar na competição de canto vocal multi-harmónico tradicional de Tuva. Ganhou o primeiro prémio e, pela sua atuação, ficou localmente conhecido como “Terramoto”.

Com Kongar-ol, Paul Pena gravou o CD Genghis Blues, em que misturam blues, morna, trechos cantados em cabo-verdiana e khoomei, música de Tuva. Na sequência, Paul Pena foi nomeado embaixador do blues de Tuva e, em São Francisco, o dia 1 de julho foi declarado pelo município como Dia de Paul Pena.

A viagem para Tuva e a colaboração com o músico asiático resultaram num documentário, também intitulado Genghis Blues (1999), que recebeu o prémio do público no Sundance Film Festival e foi nomeado para o Oscar.

“A mistura da morna com os blues e a música de Tuva é uma experiência única. Para além de ter inscrito o seu nome na geografia dos mestres dos blues americano, a originalidade deste intercâmbio cultural é uma das grandes contribuições de Paul Pena para a música do mundo”, lê-se no artigo de Arena, que salienta que, apesar de pertencer à segunda geração de imigrantes cabo-verdianos nos EUA, o músico nunca deixou de referir a morna como uma das suas maiores influências.

Discografia

  • Paul Pena, LP, Capitol Records, EUA, 1972.
  • New Train, CD, Hybrid Recordings, EUA l/d, 2000 (gravação de 1973).
  • Genghis Blues, CD, Six Degrees Records, EUA l/d, 2000.
  • Participação no CD Deep in the Heart of Tuva: Cowboy Music from the Wild East, (vários artistas), 1996.
  • Participação em Fly Walker Airlines, de T-Bone Walker Blues Band, 1972. Gravado ao vivo no festival de jazz de Montreaux em 1972.
  • Participação em Giant Killers, Big Bones e Paul Pena. Gravado ao vivo no Freight and Salvage Coffee House, em Berkeley, Califórnia, 1991.

Para saber mais

Genghis Blues, 1999, documentário realizado por Roko Belic.

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