Tcheka

Por GN em

Tcheka, 2005. Foto: Deborah Metsch/Lusafrica

Manuel Lopes Andrade

Ribeira da Barca, Santa Catarina, Santiago, 1973

Cantor, compositor, instrumentista (violão)

Autor de temas que falam de Santiago rural e intérprete de violão de uma maneira que traz para as cordas a batida do batuku, Tcheka surge para o público da Praia nos anos 1990 num momento em que havia qualquer coisa a fermentar musicalmente na capital de Cabo Verde. Trabalhava como cameraman na televisão pública e por vezes atuava entre amigos em bares da cidade quando começou a ser notado. A sua primeira gravação é, em 2001,“Ma n’bá dêss bêss cumida dâ”, que apareceno CD Cap vers l’enfant II, iniciativa francófona de objetivo filantrópico. No ano seguinte esse tema é gravado por Lura no álbum In love e será o genérico do programa Kultura, da TCV, entre 2002 e 2003. Em 2002, Tcheka faz parte, com três temas, do projeto coletivo Ayan!, que reúne alguns dos principais nomes dessa vaga de reelaboração do batuku: Vadú, Princezito e o grupo Djingo.

Em 2003, sai o seu primeiro álbum a solo, Argui!, pela Harmonia, que se manterá como sua editora nos anos seguintes. Este álbum tem no acompanhamento Ângelo Andrade (violão, sintetizador e piano), Kisó Oliveira (baixo acústico) e Raul Ribeiro (que fazem parte do Arkora mas não comparecem como grupo), sendo os dois primeiros responsáveis pelos arranjos. Como participações especiais neste álbum comparecem Hernani Almeida (violão) e Swagato (flauta e sax). Várias das composições são parceria de Tcheka com o jornalista Júlio Rodrigues.

Segue-se Nu monda (2005), disco premiado no concurso Découvertes RFI Musiques du Monde, da Radio France International, nesse ano realizado no Senegal. A base do acompanhamento é a mesma, com ligeiras mudanças. Além de Kisó (desta vez no baixo elétrico) e Raul (percussão ao invés de bateria), Hernani está nos arranjos, violão e viola de dez cordas e Angelo (violão) é que aparece entre os convidados.

É também de 2005 o CD Praia-Dakar-Conexões, que Tcheka divide com Princezito, Djoy Amado e grupo Terrero. Os seus dois temas no disco têm Manu Lima e Kim Alves nos arranjos e teclas, entre outros músicos. O álbum seguinte, Longi, 2007, traz como produtor o brasileiro Lenine, que no Brasil foi um dos representantes do chamado “movimento mangue-beat”, que fez, na apropriação de ritmos tradicionais do Nordeste do Brasil, aproximadamente o mesmo que se passou com o batuku de Santiago e a música produzida pela chamada, não sem controvérsia, “geração Pantera”. Hernani é o único músico cabo-verdiano no acompanhamento.

Por sua vez, Dor de mar (2011) traz uma total renovação na banda de suporte do artista: Ivan Gomes (violão solo); Ndu (percussão); Guy N’Sangué e Zé Paris (baixo); Thierry Fanfant (baixo duplo); Régis Gizavo (acordeão); Antoine Illuouz (trompete); Yannick Almeida (flauta). Kim Alves está ao violão no tema de Norberto Tavares, Bu dan cu stango.

“Toquei tanta morna e koladera, muitas vezes obrigado, que acabei por não ter preferência por esses géneros.”

Tcheka em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens

A vida musical de Tcheka começou muito cedo. Na infância, o pai, Nho Raul de Ribeira da Barca, violinista originário da ilha do Fogo, liderava um grupo de filhos-discípulos, com os quais tocava tanto em festas como em funerais – Pai e Filhos Andrade. Nessa casa, à parte o eventual interesse espontâneo de cada um, aprender música era obrigatório a partir de certa idade. Para Tcheka, foi a partir dos 9 anos. Mornas, koladeras e sambas compunham o repertório do grupo familiar, baseado nos instrumentos de corda. Mas aos 16 anos, o batuku – também marcante na sua infância, já que omnipresente na vivência do homem de Santiago – despertava o seu interesse de modo especial.

Ao deixar Ribeira da Barca para trabalhar na Praia, o seu contacto com músicas de diferentes origens, passando pela brasileira, africana e norte-americana, irá dar-lhe o substrato a partir do qual faz uma música muito pessoal. “Não posso dizer quem me influencia mais, nem enumerar os ritmos. Ouço várias músicas, de diferentes tendências e quando componho ou toco, a música sai, a influência já vem mastigada”.

Discografia

  • Argui!, CD, Harmonia, SV, 2003.
  • Nu monda, CD, Harmonia, SV,    2005.
  • Longi, CD, Harmonia, SV, 2007.
  • Dor de mar, CD, Harmonia, SV, 2011.
  • Boka Kafé, CD, 2017. Com Mário Laginha.
  • Participação no CD Cap vers l’enfant II, 2001, com “Ma n’bá dêss bêss cumida dâ”.
  • Participação no CD Ayan!, 2002 com N’kre bejábu”, “Basalisco” e “Primero bez kin bá cinema”.
  • Participação no CD Cap Vers les autres, 2002, com Nha mundo”.
  • Participação no CD Praia-Dakar Conexões, 2005, com Naia” e “Satanás”.

Composições  

Agonia; Amizadi Si; Ana Maria; Antuneku; Argui!; Basalisco; Da-m bu mon; Djan Bedja; Djan Kre Bejabu; Djuana; Faka na prega; Fla mantenha; Kalaboço; Kre ka Nha; Kriadu assim; Kumbossa; Lingua Pretu; Lonji; Ma´n Ba Dês Dês Kumida Dá; Madalena; Makriadu; Mamai Doca; Maria Soni; Moça de classe; N´Kre Bejábu; Nayaé; Ness Tempo di Nha Bidjissa; Nha Mundo; Nu Monda; Pexera porto; Pexin Pexon; Primero Bez Kin Bá Cinema; Rozadi Rezadu; Rozadi Rezadu; Sabu; Sabu; Santa; Satanaz; Sisterna; Son di Tchuba; Strada Pico; Tabanka Assigo; Tadja korbu; Talulu; Tchoro na morte; Telemóvel; Tenpul nona, negul pinha; Teté Landim; Transason; Tuti Santiagu.  


Para saber mais

Creolization and contemporary pop iconicity in Cape Verde, tese de doutoramento (2011) do antropólogo Edward Akintola Hubbard, na qual os primeiros anos da carreira de Tcheka são tratados em pormenor.


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