Vamar Martins

Por GN em

Vamar Martins. Fonte: Facebook

Vamar Sando Brito Martins

Mindelo, São Vicente, 1978

Instrumentista (cordas), professor

Vamar Martins, cujo nome vem da junção dos nomes do pai e da mãe, Vasco Martins e Margarida Brito, é um guitarrista que procura fazer uma síntese entre a música cabo-verdiana e o jazz. Na sua infância e adolescência, passou pelo piano, pela flauta, que a mãe ensinava, e só muito mais tarde se interessou pelo violão. Embora a guitarra seja o seu instrumento de trabalho, toca também baixo e violino.

Formou-se pelo Instituto Pedagógico. Mais recentemente, lecionou harmonia e instrumento na Faculdade de Educação e Desporto (FAED), da Universidade de Cabo Verde, que incorporou aquele instituto.

Vamar Martins Viveu em França de 2002 a 2018, para onde se deslocou por um convite do produtor Elísio Lopes, que acabava de criar a Morabeza Records Multimedia e o ouvira tocar no Mindelo. Em Paris, gravou em 2004 um CD a tocar temas próprios ao violão e à guitarra elétrica. Com a mesma editora, trabalhou num projeto, que acabou por não ser concluído, de passar para partituras peças musicais de compositores cabo-verdianos. Mais tarde, trabalhou como diretor artístico do Tradição e Morabeza, espaço com música ao vivo criado no Mindelo na década de 2000 por Elísio Lopes.

Durante o tempo passado em França, lecionou guitarra na escola Milonga, que tinha uma proposta alternativa aos métodos de ensino tradicionais dos conservatórios e que, ao ser encerrada, levou a que seus professores e alunos montassem juntos uma nova escola – Fa Si La à Aprendre. Mais tarde, Vamar criou a sua própria escola com um amigo: Musique Impact.

Ao mesmo tempo, tocava habitualmente em espaços de música ao vivo, acompanhava intérpretes cabo-verdianos que atuavam em França e esteve ligado a vários grupos com proposta musical ligada ao jazz. Em 2010, fez um dueto com o guitarrista cabo-verdiano Tuia e atuaram no Musée du Quais Branly, tendo sido muito elogiada a atuação, o que os levou a pensar num projeto maior, e assim criaram um quarteto. Entre 2014 e 2016, Vamar tocou com músicos de jazz franceses, no Mix Quartet, que durante algum tempo interpretou só musicas de Horace Silver. Paralelamente, ia compondo, mas essa produção ficava na gaveta.  

Vivendo em São Vicente desde 2018, trabalha habitualmente acompanhando cantores e tocando em espaços como a Galeria Nho Djunga, Jazzy Bird e Prassa 3, principais locais de música ao vivo no Mindelo atualmente.  

Apesar da sua ascendência familiar ligada à música, Vamar Martins sempre foi um autodidata. “Nasci numa casa de música, com instrumentos sempre presentes, então é diferente de uma criança que não tem esse contato. Eu achava normalíssimo, não ligava muito”, relata a Cabo Verde & a Música – Museu Virtual (agosto 2022).  Aos 16 anos o pai lhe deu uma guitarra. Mas na época estava numa fase de videogames e a guitarra acabou por ser trocada por um jogo. Foi só por volta dos 18 anos que a música começou a interessá-lo. Aí, era uma onda rock. Então, ao ouvi-lo, Vasco lhe disse: “Muito bom , fixe, mas há milhares que fazem isso, não esqueça a sua essência”. “E isso é que fez o que sou hoje”, afirma Vamar.

Em 2022, sai o seu segundo trabalho discográfico, com ideias que já tinha desde os anos 1990 mas que não tinha posto em prática no primeiro disco: a mistura da música tradicional cabo-verdiana com o jazz. Inkrustode (“como uma pedra preciosa num colar”, refere) significa como a música cabo-verdiana está incrustada nele,  mas tendo sempre um pé no jazz.

Vasco Martins, Voginha e Vamar. Foto: Zé Pereira

Foi só depois de regressar a Cabo Verde que Vamar tocou com o pai publicamente, embora em casa o fizessem habitualmente. Em 2019, substituiu Vasco Martins num concerto com temas do CD Dôs, de Vasco e Voginha, e mais tarde, com este último e o violoncelista Dy Fortes, criaram o espetáculo “Dôs igual Três”, que apresentaram na Academia Livre de Artes Integradas do Mindelo (Alaim) e num festival de cordas em São Nicolau. No mesmo ano, com Vasco (sintetizador) e Mamadu Sulabanku (voz), atuou no Festival da Baía das Gatas. Em 2020, no mesmo festival em formato virtual, devido à pandemia de Covid, atuou com Vasco e Voginha com a designação VVV (iniciais dos três músicos) recriando em palco o projeto Dôs mas agora em trio. Em 2019, Vamar inaugurou os concertos “Jazz Verde” conceito criado por António Tavares no Centro Cultural do Mindelo para trazer ao palco música alternativa ao tradicional e projetos emergentes.

No teatro, colaborou com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo em peças encenadas por João Branco. Tocou, compôs e fez a direção musical de À Espera da Chuva (2002), peça inspirada no clássico À espera de Godot, de Samuel Beckett. Em Mort ma Vida Severina (2021), adaptação de Morte e Vida Severina, do brasileiro João Cabral de Melo Neto, criou a música e todos os efeitos sonoros na sua guitarra sintetizadora Godin – que adotou em 2016 e que desde então faz parte da sua identidade como músico. A sua primeira experiência com o teatro foi a contracenar, improvisando na guitarra, com o ator Marcel Ndong, da Guiné Equatorial, na peça Marcel sem Palavras.  

E em momentos para relaxar, Vamar faz parte do Broad Band, um grupo de amigos que tocam informalmente,  com um repertório que vai de Jean Michel Jarre a Cabo Verde Show, passando por Pink Floyd e tudo o que apetecer. O grupo é formado por Pinúria (baixo), Vamar (guitarra), Mário Coronel (guitarra e voz), Cece (teclados), Zé Cabral (bateria) e Jéssica (voz e coro).  

Composições

Trocolança; Café Musique; Mornam’el; Marvin; Mar d’Atlantico; F’tcha oi b’oia; Kaminhá pa sol; Kompass II; Rue de la pompe; Tolerança.

Discografia

  • Café Musique Mindelo, CD, Morabeza Records Multimedia, Paris, 2004.
  • Inkrustod, EP, Harmonia, São Vicente, 2022.
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