Vlu

Por GN em

Vlu, atuação no Festijazz, 2003. Foto: Gláucia Nogueira

Valdemiro Ferreira

Ponta do Sol, Ribeira Grande, SA, 1955

Cantor, compositor, instrumentista (guitarra)

Vlu faz parte do grupo de jovens que, no Mindelo, a partir de meados dos anos 1970, começa a destacar-se na música. Fez parte do Kuelah Tabanka. A sua primeira composição foi gravada pel’ Os Alegres, no seu único disco, Reação, de 1975.

Desde então, vão aparecendo pontualmente em discos de diferentes intérpretes composições suas que não se encaixam nos padrões ditos tradicionais da música cabo-verdiana, como a morna ou a koladera, ritmos mais habituais na produção dos compositores de São Vicente. São canções ou baladas de fazem deste compositor um outsider no padrão estabelecido que valoriza sobretudo o que é considerado “tradicional”, o que talvez explique a relativamente reduzida quantidade de gravações de temas seus ao longo do tempo, apesar da originalidade das suas letras e do impacto que costumam ter junto ao público, quando divulgadas.

Esse papel de outsider Vlu nunca deixou de reivindicar, na defesa da sua liberdade criativa e das influências que assume, para lá da música cabo-verdiana – a música dos anos 1960, a brasileira, o pop, a soul, o jazz. E aponta o dedo contra o conservadorismo: “No pós-independência, o que nós [grupo de jovens de São Vicente que estava a despontar] fazíamos era considerado música alienada.” (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens). “Havia um pensamento conservador que decretou a morna e a koladera como música nacional. Outras coisas não tinham espaço, não éramos convidados para nada oficial”, refere.

É por essa razão, prossegue, que acaba surgindo o festival da Baía das Gatas, em 1984, a partir de uma ideia surgida numa das noites musicais da Galeria Nho Djunga, espaço em que, entre outros, atuavam Vasco Martins, Tey Santos, Voginha, enfim, o núcleo que não se submetia ao conservadorismo musical vigente. “A proposta era criar um palco para toda a música de Cabo Verde e os músicos de Cabo Verde”, recorda Vlu sobre o festival, que acabou por tomar enormes dimensões, saindo das mãos dos fundadores. Era o tempo do Gota d’Aga, grupo efémero em que Vlu e Dany Mariano eram os vocalistas.

Nessa mesma altura, Vlu aparece com o seu LP, Hey morena, em que canta e se acompanha à guitarra elétrica, com a participação de Vasco Martins (piano e guitarra), Lúcio Vieira (baixo), Blimundo (bateria), Renato Jr. (piano e sintetizador) e J. da Silva “Amanhã” (congas), os três primeiros membros do Gota d’Aga. Este álbum, em que todos os temas são da sua autoria, fica sendo o seu único registo discográfico editado, apesar de em 1998 ter adquirido um estúdio de gravação. Vlu não tem na música uma atividade a tempo inteiro, sendo proprietário de uma agência de transportes marítimos.

“Em 1982 cheguei à conclusão que tínhamos que fazer uma música de Carnaval que fosse autenticamente nossa, escrita em crioulo e imbuída do nosso espírito de divertimento.”

Vlu. em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens

Vlu terá tido um papel importante nesse contexto, ao passar a compor em cabo-verdiano e tornando essas músicas mais cabo-verdianas – antes eram cantadas em português, numa imitação do Carnaval brasileiro. “O barco pirata” ainda tinha letra em português. “Em 1982 cheguei ”, afirma em Cabo Verde & a Música. A música foi “Jantar cevada”, para o grupo Os Africanos. A composição ficou em primeiro lugar no concurso e desde então as músicas de Carnaval são sempre na língua cabo-verdiana.

Como compositor, aparece também com músicas carnavalescas, desde 1979, e por várias vezes venceu o concurso de melhor música. “Foi o Luís Morais que me meteu nisso”, revela em entrevista ao www.asemana.cv (19.02.2005). “Da data da independência até 1979, salvo erro, os blocos de Carnaval não saíram à rua. Antes de 1974 existiam vários grupos, bonitos e bem organizados. Mas, em 1979, os grupos regressaram em força e o Luís Morais tinha sido o escolhido para compor as marchas de todos os grupos. Ele sabia que eu compunha e pediu-me para compor a música do grupo Estrelas do Mar”, recorda. A música, intitulada “O barco pirata”, foi um sucesso, segundo o compositor, que a partir de então não mais parou.

Discografia

  • Hey Morena, LP, Kally & J.Abu-Raya, Lisboa, 1984.
  • Participação no CD Dez granzin di tera – a viagem dos sons (vários artistas), 1998, a interpretar o tema da sua autoria “Djon d’Camila”.
  • Participação no CD Lisboa nos cantares cabo-verdianos (coletânea/grav. especiais), 2001, com o tema “Rua de Lisboa”.
  • Participação no CD Palco d’vida, 2011, de Diva Barros, no tema da sua autoriaMi e dodo na bo”.

Composições

Alina; Ba timbora ba timborinha; Djon d´Camila; Fim d´Semana; Gather People Together; Guintché (Vlu); Hey Morena; Ma-Liza; Mariana; Mi e dodo na bo; Muchin; Padoce de Céu Azul; Quebrod nem Djosa; Rua de Lisboa; Sodade Fé e Esperança; They won´t; Um canção pa bo; Um Conselho; Uma Data Magna (Baía das Gatas); Ume Queria.


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