Antôn Tchitche

Por GN em

Anton Tchitche em família. Foto cedida por Lourdes Pereira

António da Silva Ramos

Mindelo, São Vicente, 1880 – Mindelo, São Vicente, 1936

Compositor

De uma família originária de São Nicolau, Antôn Tchitche foi um comerciante abastado até certa altura da sua vida. Em sua casa de vasta prole respirava-se música. Foi aí que floresceram, sob a sua instrução, o talento da pianista Tututa e a bela voz de Tchufe, dois de seus filhos.

Tututa associa o pai ao surgimento da koladera, no início dos anos 1930, como resultado do acelerar do compasso da morna, lembrando que ele a ensinava e corrigia, tinha ela seus 14 ou 15 anos (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens). Um texto possivelmente da autoria de B.Léza (não assinado mas constando do dossier temático sobre este compositor depositado no Arquivo Nacional de Cabo Verde (ANCV) diz a mesma coisa, e acrescenta que ele seria também o criador da “morna vicentina, irónica e esfuziante onde encontramos a nota idiossincrática do tipo mindelense”. Nestas mornas, “António Tchitcho chacoteava e sublinhava num estilo picante, mas numa toada subtil e deliciosa, os fracassos das raparigas e os ridículos do seu tempo. Nelas, o autor nortenho condensava o erotismo, a mordacidade, predominando uma acentuada índole de lascívia” – características, aliás, habitualmente associadas à koladera. Na categoria de “morna vicentina” o texto inclui os temas: “Viana”, “Mã Bia mata bébé”, “Remá contra maré”, “Nho cansado” e “Joana maninha” e lembra que o compositor não ficou só pelo “género caricatural”, apontando outras mornas – “Camponesa linda”, “Meu bem” e “Canção alada” – como sendo de “elevadas modalidades” e dedicadas à mulher que viria a ser a sua esposa.

Nessa página dedicada a Antôn Tchitche – naquilo que parece ser uma obra que B.Léza estaria a preparar sobre a música cabo-verdiana, pois no dossier do ANCV há outros trechos, assinados, dentro dessa temática e mesmo a indicação de títulos como Alma caboverdeana e Canção crioula – o autor refere que a poesia daquelas composições não se elevou à altura das de Eugénio Tavares ou Pedro Cardoso, “mas as suas sátiras em mornas picantes tiveram ambiente, porque todas elas foram o traço colorido dos acontecimentos vulgares da sua época”.

Antôn Tchitche, é também autor da morna “Abissínia”, cuja letra está na página citada acima, e que expressa o desejo de que os etíopes expulsem as forças de Mussolini que haviam ocupado a Eritreia em 1935: “Ô África como bô ê fraco!/Tudo gente tá fazê bô pôco,/Má inda nô tem qui oiá/Nêgus dâ Duce di soco!”. Esta foi a mais antiga composição com temática política encontrada na pesquisa para a compilação Música de Intervenção Cabo-Verdiana (2003). Contudo, segundo o texto atrás citado possivelmente da autoria de B.Léza, Antôn Tchitche teria também composto nessa linha a morna “Kaiser”, em 1915.

A maior parte de suas composições, algumas em português, ficaram inéditas quanto a registo, mas passavam de boca em boca em São Vicente. Moacyr Rodrigues em A morna na literatura tradicional lista algumas: “Santo António de Lisboa”, “Santa Cruz”, “Dia 15”, “Sono tormentod”, “Destino” e “Lombiana”.

Composições

Abissínia; Camponesa linda; Santo António de Lisboa; Santa Cruz; Dia 15; Sono tormentod; Destino; Lombiana.


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