Divinas

Por GN em

Por Gláucia Nogueira

Os cânticos denominados Divinas são uma tradição da ilha de São Nicolau. São entoados por ocasião das celebrações de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da igreja matriz da Ribeira Brava, e que dá nome à maior freguesia desta ilha.

Canto da Divina na Ribeira Brava. Registo realizado por João Freire de Oliveira

“Os grupos preparam-se, em ensaios que são feitos ao ar livre e na presença do público, ao longo do mês de setembro. Na noite do sábado anterior à missa do dia de Nossa Senhora do Rosário, deslocam-se ao adro da igreja para cantar”, esclarece Amílcar Spencer Lopes, natural desta ilha, recordando que na sua infância, havia três grupos: “o de São João (que ensaiava no Largo/praceta de Nossa Senhora da Graça, por existir ali um nicho, com a imagem da Santa), o da Ladeira e o da Ribeirinha (local onde os ensaios tinham lugar, se bem que Ribeirinha correspondia ao largo onde estavam localizados um tanque, um bebedouro e o fontenário, no bairro de Estância de Baixo), correspondente aos três principais bairros da Vila da Ribeira Brava.”

Também de São Nicolau, a jornalista Maria de Lourdes Jesus recorda que desde criança gostava de ir assistir à Divina: “Meu pai era tenor, meu irmão e as minha tias paternas faziam parte do grupo de canto de Divina.”

Dos registos escritos sobre as Divinas, refira-se dois textos publicados no jornal Terra Nova na década de 1980. Um dos relatos, de novembro de 1983, refere o grupo da localidade de Ladeira, liderado por Nho Lela. Seria um grupo com cerca de 25 homens, alguns já idosos naquela época e que estaria a ressurgir, em 1983, depois de durante alguns anos ter estado praticamente inativo.

Outro texto no mesmo jornal (fevereiro de 1984), uma carta de leitor, informa que na década de 1930, havia três grupos de Divinas, que correspondem aos enumerados acima: o da zona de São João (que cantava a divina diante de uma capela de Nossa Senhora da Graça); o da Ladeira já referido (pois era cantada em determinado local da ladeira da igreja) e o de Estância de Baixo, que era conhecido como “Divina da Pracinha de Cachorro”, por ter esta denominação o local onde era cantada.  

Em 1980, quando se encontrava a fazer recolhas de músicas e outros aspetos etnográficos na ilha de São Nicolau, João Freire de Oliveira registou em vídeo um momento de ensaio do canto da Divina, que cedeu para ser partilhado aqui.

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Referências:

Fidalgo, A. “Apontamentos do mês”, Terra Nova, novembro de 1983.

Amílcar Spencer Lopes, depoimento.

Maria de Lourdes de Jesus, depoimento.

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