Lela de Maninha

Por GN em

Lela de Maninha, sem data.
Fonte: “Orgulho Nacional”

Armando António Lima

Mindelo, São Vicente, 1918-Angola, 2011

Compositor, instrumentista (cordas)

O compositor Lela de Maninha vivia do comércio a bordo dos navios que passavam por São Vicente. Mulato tipo indiano, bem-parecido e educado, a sua bela voz animava serenatas e noites de boémia no Mindelo dos anos 1940 e início dos 1950, fazendo parte do grupo de jovens que gravitavam à volta do B.Léza, segundo o investigador Moacyr Rodrigues.

“Lela de Maninha é o poeta da ponta-de-praia, e dos catraeiros sem bote. Lela é o poeta da cidade e das meninas-de-vida.” Assim o descreveu Gabriel Mariano, que o colocou como personagem do conto “Caduca”, no livro Vida e Morte de João Cabafume. Lela de Maninha foi evocado também em versos pelo mesmo autor: “Toca violão Lela de Maninha / Por todos e por nós / Aqui e não longe…” no poema “Aqui e não longe” (“Pequena amostra de poesia cabo-verdiana”, em Garcia de Horta, 1961, vol. 9, nº 1). Mariano considerou Lela de Maninha o fundador da “morna neorrealista” ou, em outras palavras, da música de protesto (ou de intervenção) em Cabo Verde, nos anos 1940. O escritor colecionou letras das composições de Lela, por ele oferecidas a seu pedido, e escreveu apontamentos sobre o compositor, mas não chegou a publicá-los.

“Toca violão Lela de Maninha

Por todos e por nós

Aqui e não longe…”

Gabriel Mariano, no poema “Aqui e não longe”

Lela de Maninha emigrou em 1952 para Angola em 1952, onde trabalhou numa roça no Lobito. Segundo Any Delgado, sua sobrinha-neta (https://m.facebook.com/orgulhonacional), o compositor nunca deixou de lado “a sua veia intervencionista e reivindicativa contra o regime”, defendo melhores condições para os trabalhadores. Na roça, segundo o texto de Delgado, organizava tocatinas e certa vez foi convidado para tocar numa atividade oficial do município. Intepretou uma composição em que dizia “Angola ê so pa branku / Nô ta txomado, nô ta fitxadu / Nô ca tem direit / Nô ca tem razon…”. Acabou preso. A sua ligação com Angola é revelada em várias das suas letras, como “Angola” (Landin), “Caboverdeano n’Angola”, entre outras.

O compositor viveu até o fim da sua vida em Angola, onde deixou descendentes. Fixou-se a partir de certa altura em Benguela, onde foi uma personagem proeminente na comunidade cabo-verdiana, e foi cônsul de Cabo Verde nessa província.

A primeira gravação de uma composição sua foi, nos anos 1950, “Odji maguado”, por Djuta Silva. Meio século depois, o álbum São Vicente di longe, Cesária Évora, tem o título da morna que serviu de mote a Gabriel Mariano para descrever o Mindelo da crise dos anos 1940 e das levas de emigração que, entre tantos outros, também levaram Lela.

Composições gravadas

Angola (Landin); Bilinha; Caboverdeano n’Angola; Cruel destino; Deusa; Disgosto profundo; Nha terra nha kretcheu; Odji maguado; São Vicente di longe; Scuta (Filó); Sentimento; Sodadi di bo.


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