Manuel d’Novas

Por GN em

Manuel d’Novas em sua casa, no Mindelo. Foto de Francisco Fontes

Manuel de Jesus Lopes

Ribeira Grande, Santo Antão, 1938 – Mindelo, São Vicente, 2009 

Instrumentista (cordas), compositor

Manuel d’ Novas é considerado um dos maiores compositores de Cabo Verde, autor de cerca de 120 composições, muitas das quais receberam sucessivas reinterpretações. As suas letras revelam um atento observador do quotidiano, com humor, por vezes ironia, em pequenas histórias sobre o dia-a-dia da terra, com alguma crítica social e política.

Manuel d’ Novas e Jack Monteiro. Foto cedida por Jack Monteiro

A sua primeira composição gravada foi “Serpentinha”, por Bana, acompanhado pelo Voz de Cabo Verde, ainda nos anos 1960. Além das suas bem-humoradas koladeras, compôs também mornas e ambos os géneros o tornaram conhecido bastante cedo.

É de 1973 um artigo inserto em Presença Crioula (ago./set. 1973), publicação editada pela então Casa de Cabo Verde (antecessora da Associação Cabo-Verdiana, de Lisboa), que o apresenta já nessa época como “autor da letra e música da maioria dos mais recentes sucessos de mornas e coladeiras”, tendo conquistado “incontestável popularidade entre cabo-verdianos de todas as camadas sociais espalhados pelas ‘sete partidas do mundo’”. “Muitas das expressões utilizadas nas suas coladeiras passaram para a linguagem crioula corrente com um sentido satírico especial e característico de determinado vocabulário mindelense…”, lê-se no texto.

“Meto-me por todos os buracos, Ribeira de Craquinha, Vila Nova, tomo groguinho com a malta, é aí que a gente bebe, inspira-se. Meus ouvidos são como radares, captam. Se se tratar de coisas interessantes puxo o meu bloquinho e anoto. Depois faço o trabalho.”

Manuel d’Novas em entrevista ao Novo Jornal Cabo Verde, 12.07.1997
Manuel d’ Novas e Rui Machado. Foto cedida por Rui Machado

Por volta dos 20 anos, a trabalhar no navio Novas de Alegria, que fazia a ligação Mindelo-Dacar, aprende a tocar violão com colegas de trabalho e pouco mais tarde começa a compor. A sua primeira composição foi “Pinote na vapor”, sobre um tema bem presente naquela altura e que tem a ver com navios: o da fuga clandestina em alguma embarcação de passagem por São Vicente.

Depois daqueles primeiros anos no navio de onde lhe veio a alcunha que ficou por toda a vida, a primeira vez que embarcou para um longo percurso foi num barco liberiano, em 1964. Percorreu o continente americano quase que de Norte a Sul, contatando nessa viagem com a música latino-americana. Numa sucessão de navios e viagens vive cerca de uma década no mar. Em 1975, chega em Cabo Verde, faz o curso da Escola Náutica e fica como piloto de barra durante cerca de dois anos. Em 1977 embarca novamente, para regressar em 1985, definitivamente. Ficou a trabalhar como piloto dos estaleiros navais do Mindelo até à reforma.

Homenagem a Manuel d’Novas na cidade do Mindelo

Em 2010, por iniciativa do produtor Alberto Rui Machado, é editado o CD Homenagem a Manuel d’Novas, uma compilação gravações de composições de Manuel d’ Novas por vários artistas.

Neu Lopes, filho do compositor, realizou o documentário Manuel d’ Novas – Coração de Poeta (2019), sobre a sua vida e obra.

Discografia

  • Rufux Scacarex/Nos raça, EP, Discos Monte Cara, Lisboa, 1985 (“Rufux Scacarex” aparece na compilação Seleção de Cabo Verde 80, 1980).
  • Hoje é Natal/Novo ano, EP, edição de autor, São Vicente, 1985 (“Hoje é Natal” aparece no CD coletivo Rakordai, 1993).

Composições

Amigo Amiga; Apocalipse; Armon; Armon; Av. Marginal; Balói; Baloi Bedje; Barbincor; Biografia dum Crioulo; Bitina; Bo ca Tava pa Sementera; Bô Kkê Naiss; Bô Voz Mavioso; Cabe Verde Mandá Mantenha; Cabel Tchumscode; Calibra bô steam; Camin de Maderalzim; Canção di Regresso; Casinha Branca; Charmosa; Cigana de curpin ligante; Cinco de Julho; Cmê Catchor; Contraste; Contratempo; Coração d´um Poeta; Corpim Sabe; Crioula; Cumpade Ciznone; Curti Geada; D. Ana; Direito di Nasce; Diva de Pé Nu; Divórcio Um Ca Ta Sena; Dôs atributo; Ess País; Falá na Sone; Fantasia di Nha Sonho; Fidjos de Adão e Eva; Gardénia; Gote Pintode; Guintche Bo Ca É; Happy Cave; Hoje é Natal; Holanda e d´Holandes; Holandeza; Jóia di Nha Vida; Jom d´Ebra; L´Or d´Oi Azul; Lamento de um Emigrante; Lena; Lisboeta; Lixo Industrial; Lôr d´Oi Azul; Lucy; Lutchinha; Mané Gaida; Mi Bem di Longe; Mi bem di Longi; Mister di Cretcheu; Mistério de Castanheta; Morte d´Um Tchuk; Mosca Estronhe; Natal; Neuza; Nha Coraçon Tchora; Nha Regresso; Nha Visão; Nhu; Nos Morna; Nos Paraiso; Nos Raça; Nôs Romance; Note Tropical; Novo Ano; Oitenta Melodioso; Paraíso di Atlântico; Pinote na Vapor; Ponta de Fi; Porto Novo (vila crioula); Praga Maldite; Professorinha; Querida; Rambóia; Resposta d´Guintche; Resposta Minininhas de Monte Sossego; Rosie; Rufux scacarex; Sabor de Pecado; Salta parede; Saragarça; Sardinha; Scapinha; Sema; Serpentinha; So Bo So; Sodade d´Nho Roque; Sodade de Mundo; Sombra de Destino; Sonho d´um Criôl; Sono profundo; Sonte e Bo Nome; Stranger e Uma Ilusão; Talianinha; Tchal kêt; Tchal Kêt; Tchom Frio; Travessa di Pexera; Tributo final; Tudo Dia e Dia; Tudo Tem se Limite; Um Oya Un Estrela; V´ra Tchiefe/Vra Tchif; Vent d´Sueste; Verdianinha; Vida Tem Um So Vida; Viva Mindelo.

Para saber mais

Manuel d’ Novas: música, vida, cabo-verdianidade, de César Augusto Monteiro, ed. autor, Praia, 2003.

Teaser do filme “Manuel d’ Novas – Coração de Poeta” (2019), realizado por Neu Lopes.

Ver e ouvir

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