Maria Barba
Maria da Purificação Pinheiro
Povoação Velha, Boa Vista, 1905 – Bissau, Guiné-Bissau, 1974
Cantadeira de mornas, compositora
A boavistense Maria Barba é personagem e título de uma morna, além de ser uma personagem real e coautora da música que a imortaliza na memória coletiva. Há diferentes versões sobre o momento da criação da morna “Maria Barba”, mas deixando de lado os pormenores pode-se resumir assim o início da sua fama: num baile pelo final da década de 1920, na Boa Vista, a jovem com pouco mais de 20 anos que era já uma cantadeira de renome improvisa um dueto com o tenente Serra (engenheiro militar em missão no arquipélago, que viveu vários anos na Boa Vista, chegando a constituir família). Na letra, ele pede que ela cante mais uma morna, ela responde que não pode porque está intimada a dar a sua colaboração na “matança de gafanhotos” – na época, uma espécie de imposto pago por cada família em trabalho braçal, e que era forma de combater esta praga recorrente em Cabo Verde. Participa também da letra, referido por ela e a dizer certos versos, o “Sr. Engenheiro”, segundo Alberto Rui Machado (A Semana, 23.01.2009) provavelmente o Eng.º Baeta Neves, chefe da Missão Geográfica na altura, também militar. É este personagem, aliás, que inicia a música, pedindo que Maria Barba “cante mais uma morna / para a despedida do Sr. tenente Serra”.
Segundo Eutrópio Lima da Cruz (Voz di Povo, 15.03.1982), citando uma testemunha da criação deste tema, a letra improvisada no baile foi cantada sobre a melodia de uma morna já conhecida anteriormente e originária da localidade de Curral Velho. Seja como for, a composição, que em poucos versos simulando um diálogo consegue ser um pequeno retrato da vivência social naquele período na ilha da Boa Vista, tornou-se um clássico do repertório tradicional cabo-verdiano e perdura no tempo, muito para além da época em que surgiu e das personagens que a produziram.
Maria Barba, por sua vez, é uma das cantadeiras que integra a delegação que em 1934 viajou para o Porto em representação de Cabo Verde na I Exposição Colonial Portuguesa. Do grupo faziam parte, entre outros, Luís Rendall. Segundo António Germano Lima (A Semana, 14.09.2001), que aponta essa opinião como consenso geral, a sua reputação como cantadeira era muito boa, “foi a maior de todos os tempos”, não sendo de estranhar que estivesse entre as escolhidas.
A alcunha Maria Barba vem da mãe, que se chamava Bárbara, e então chamavam-na de Maria de Bárbara, o que é habitual em Cabo Verde. O passar do tempo levou à corruptela Maria Barba. Nos primeiros anos da década de 1940, Maria Barba emigra para a então chamada Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), onde irá viver até o fim da sua vida. Diz-se que aí, quando cantava a música, terminava-a com estes versos acrescentados: “Oi, toda vez k’n ta canta es morna /el ta faze’m lembra Bubista nha terra…”
