Rodrigo Peres

Por GN em

Rodrigo Peres. Foto cedida por Jovino Peres.

Rodrigo Peres

Compositor 

Lisboa, Portugal, 1916 – Lisboa, Portugal, 2004

Rodrigo Peres é um dos nomes de destaque na Ilha Brava enquanto compositor de mornas, em particular das letras, já que as músicas, com ele próprio conta, na sua maioria eram feitas por outros. Principalmente José Medina: “Quando lhe mostrava os versos ele dizia-me logo: ‘Eu faço a música’. Era sempre assim que sucedia (…) Houve uma ocasião em que ele me sugeriu: ‘Olha tu vais fazer uns versos assim, assim (ele deu-me o mote) e eu faço a música’. Lembro-me que a morna que a gente fez era dedicada a umas pequenas que deixavam a Brava, iam para Lisboa e a morna era para ser tocada no baile dos Paços do Concelho, na Câmara, na véspera da partida delas. Assim fizemos. A morna até foi cantada pelos filhos do José Medina.” O relato de Rodrigo Peres encontra-se numa entrevista publicada na revista Farol, em fevereiro de 1990, por ocasião de uma homenagem que lhe foi feita pela comunidade bravense nos Estados Unidos.

Filho de um capitão da marinha natural da Brava, Rodrigo Peres nasceu em Portugal. Foi aos 4 anos chegou à ilha, de onde saiu novamente aos 11, para fazer os seus estudos no Porto. Foi nessa altura que começou a escrever poemas. Regressou à Brava aos 22 anos e foi aí, entre 1938 e 1945, que produziu todas as suas mornas. “Desde que saí da Brava deixei de compor e de escrever completamente”, refere na entrevista citada. “N’crebu fora di marca”, um dos seus temas mais conhecidos, é dedicado a uma paixão da juventude, morta aos 18 anos, bem como alguns poemas em português.

Grande parte das suas criações permanece inédita, muitas outras perderam-se. Em Lágrimas de Djabraba – Obras completas de Rodrigo Peres (compilação publicada nos EUA em 1978 pela editora Nova Atlântida), o editor, Benvindo Leitão, refere no prefácio que o compositor lhe contara que certa vez emprestou a um amigo o caderno em que colecionava os seus escritos e este nunca lhe regressou às mãos. Determinados textos incluídos no livro – reunidos pelo próprio Peres, no início da década de 1970 – encontravam-se já truncados pela transmissão oral e gravações, que muitas vezes os apontavam como de autor desconhecido ou os atribuíam a outros compositores, segundo Leitão.

O total da sua obra pode ter chegado a centenas de peças, mas o que fica registado no livro em questão são cinco sonetos e 23 mornas. Uma segunda edição, em 2009, iniciativa do seu filho Jovino Peres, inclui temas que não entraram no primeiro livro: são no total 22 poemas em português e 40 textos em cabo-verdiano, alguns dos quais com a indicação de quem compôs a música (em que se baseia a lista abaixo).

Para além da tradição romântica da morna que a sua obra tão bem representa, um tema de Peres revela o homem atento à situação política do seu tempo: como “Hitler” (de B.Léza) e “Abissínia” (de Antôn Tchitche), “Morna de vitória”, ao saudar o general britânico Montgomery pelo seu papel durante a II Guerra Mundial, ao serviço dos aliados, revela um Peres politizado e afirmativo: Ses ca contente co es nos cantiga/Nem ques ca cre no tem que cantal (Se não lhes agrada esta nossa cantiga / Mesmo que não queiram, temos de cantá-la).

Admirador de Eugénio Tavares, que conheceu ainda na infância, Peres homenageia-o num dos seus temas mais conhecidos, “N’crebo fora di marca“– N’crebo cuma Djabraba/Cre mornas de sé Tatai… (Amo-te como a Brava /Ama as mornas do seu Tatai). Por sua vez, é homenageado por Vuca Pinheiro, com a morna “Nos poeta Rodrigo”, gravada no CD Cretcheu na Paz.

Como o pai, Rodrigo Peres dedicou-se à vida marítima, trabalhando nos Estados Unidos – viveu em Nova Iorque e Nova Jersey – e em Portugal, onde se fixou no início dos anos 1950, tendo vivido em Lisboa cerca de meio século, como revela em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens o seu filho Jovino Peres.

Composições

Ninho azul,  N’crebo fora di marca, Graça (ou Graça de bo sorriso),  Se n’sabeba,  Morna de vitória,  Florzinhas de canteiro,  Sodade de menino, Catchor ca ta morde lua,  Mudjer é falso,  N’ca crebo,  Marlene,  Tardi di más, M crebo Cuma bo crê’m,  Odjo di nha cretcheu,  Nha madrinha,  Marlene (parcerias com José Medina);

Mar di Furna (ou Ondas di mar di Furna),  Carta di palmanhã, Nha dor, Ilusam, Dor di alma, Nha sorte (parcerias com Hilário Galvão);

Djabraba,  Si (parcerias com Virgínio Maria Pereira);

Disejo (com Álvaro Soares);

Mágua di nha violam (com Álvaro Soares e Hilário Galvão);

Na binagre (com Guilherme Dantas);

Strela (com Djedjinho);

Sorte grande (com A. Almeida).

Sem indicação de parcerias, em Lágrimas de Djabraba (2ª ed.): Desilusam; Ta tinha um dia; Lei de Deus; Strela sagrada; Odjos di nha cretcheu; Nhós enterra Ferrerinha; Alma de fino cristal; Três Vênus; Maria; Carrera; Morna di revoluçam; Foberas; Nha fé; Mar di sodade.

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