Vuca Pinheiro

Por D O em

Vuca Pinheiro. Foto: Marlene Nobre

João José de Azevedo Pinheiro

Nova Sintra, Ilha Brava, 1948

Instrumentista (violão), compositor

Vuca Pinheiro inicia a sua discografia em 1985, com o álbum Força di cretcheu, em que apresenta mornas soladas ao violão, privilegiando na escolha do repertório compositores da ilha Brava: Eugénio Tavares, Rodrigo Peres, Silvestre Faria, Wilson Nunes. Segue-se, na mesma linha, Ês quê nha terra Cabo Verde (1987), que conta com as participações especiais, no tema “Brada Maria”, de Silvestre Faria e de Luisinha Medina, filha de José Medina, de quem aparecem três composições no disco.

Em Cretcheu na paz (1993) Vuca Pinheiro prossegue com a sua proposta de divulgar a obra dos compositores bravenses e o texto da capa chama a atenção para o facto de que vários deles estão a ser gravados pela primeira vez nesse disco. Aparecem também temas da sua autoria, como no álbum seguinte, Fama sem prubêto (1996), em que o músico diversifica o repertório, com a introdução de géneros como o samba, a mazurca e a valsa, embora sem deixar de destacar a morna e a sua ilha natal. A sua preocupação, dizia Vuca Pinheiro numa entrevista em 1990, é “trazer à superfície, ao conhecimento de toda uma nova geração, essas lindas e antigas mornas da Brava interpretadas mesmo à moda antiga, porque apercebi-me, ainda a tempo, de que elas tarde ou cedo estarão condenadas ao esquecimento, se não forem registadas em disco” (Notícias, 01.07.1990).

Nos discos seguintes, Vuca Pinheiro Amigos  e Terra de Eugénio, o violonista, cujos discos eram até então basicamente instrumentais, abre espaço para as vozes, e é então que aparecem nos seus álbuns convidados como Lutchinha, Zerui Depina e Armando de Pina, entre outros. Em 2012, lança dois discos ao mesmo tempo, Novo Horizonte, com solos de violão, e Marchas de Fim-de-Ano da Ilha Brava, com um amplo grupo de convidados, fixando em disco uma tradição da sua ilha natal transportada para os EUA com a migração (ver Marchas de fim de Ano). Entre outros compositores, há marchas inéditas do seu pai, Júlio José Pinheiro.

Além dos seus próprios álbuns, participou em trabalhos discográficos de outros artistas, como Sãozinha canta Eugénio Tavares, Feliz Ano Nobu, de Danny Carvalho, e o projeto coletivo Peace, Love and Unity. Além de tocar, dirigiu e fez os arranjos do primeiro trabalho discográfico da cantora Duducha. Foi o produtor musical do CD Gardénia Canta Silvestre Faria e Amigos e de Alma Cabo-verdiana, de Armando de Pina. Com Danny Carvalho e Luís Morais fez arranjos e produção musical no álbum Nostalgia, de Luís Morais, que foi gravado no seu estúdio.

Vuca Pinheiro na ilha Brava, 2009. Foto cedida por Vuca Pinheiro

Vuca Pinheiro começou a se interessar pelo violão por volta dos 12 anos e aprendeu os primeiros acordes com Djick, como refere na entrevista ao Notícias. Em meados dos anos 1960, a estudar no liceu da Praia, destaca-se pelos seus desenhos técnicos e artísticos – as duas áreas, música e artes plásticas, serão por ele desenvolvidas ao longo da sua vida de várias maneiras. Em 1965, faz parte do grupo Micá. Em 1967, parte para o Brasil, onde frequenta diferentes cursos – eletricidade, eletrónica e mais tarde administração de empresas, além de música. Depois de inicialmente ser desenhador de projetos de arquitetura, acaba por enveredar pela informática, área que o levará a trabalhar em grandes empresas. Depois de algumas idas e vindas entre o Brasil, os EUA e o Canadá, no início da década de 1970 acaba por fixar-se nos EUA. 

Neste país, montou o seu próprio estúdio de gravações e criou a etiqueta Brazuca Publishing, pela qual edita os seus discos e também livros. À parte a música, entre 1987 e 1993 teve incursões pela rádio, televisão e imprensa, estando ligado à criação do jornal O Mundo Cabo-Verdiano, do qual foi o primeiro editor. A revista Farol, nesse mesmo período, contou com a sua colaboração, com textos sobre música cabo-verdiana e poemas. Foi também por essa altura que este multifacetado artista e profissional se formou em educação bilingue, pela Universidade de Massachusetts, onde veio a lecionar. Alguns dos seus discos têm a capa realizada por ele próprio, assim como o seu livro Extratos da poesia caboverdeana. Na área da psicologia, publicou em formato digital Desenvolvimento comportamental. 

Em 2015, o artista reuniu os seus trabalhos em poesia, prosa e música no volume intitulado Retalhos de uma Vida, que inclui o CD 50 Anos de Lides Musicais.

Em 2006, Vuca Pinheiro recebeu do presidente da República de Cabo Verde, na altura Pedro Pires, a primeira classe da Medalha do Vulcão.

Composições

Aga na fervura; Al somâ ta bém; Alienado; Amor sem exigências; Bem conchê nôs terra; Bico fino é só pa nhôs; Bida certo sem fantasia; Cabo Verde di nós; Cabo Verde na pensamento; Cabo Verde terra sabe; Caboverdianidade; Cativa; Conbersa co Deus; Coração de emigrante; Cusas di terra; D’nher d’plástico; Di manso manso; Dór di separação; Dor di sodade; Dor e pranto; Ermum di peto; És vida é um cristal; Fantasias de um ilhéu; Fidjos di sodade e vento leste; Florzinhas coque e bafa; Grito di nha alma; Hoje; Inigma di bo sorriso; J’al ta falâ inglês; Juventude fugaz; Lá vem ela; Lágrimas de crocodilo; Linga d’munde; Mar, sombra e água fresca; Marca fatal; Mendonça; M’nine d’mandode; Mordaça; Moreninha d´odjos di uba; Morna das ilhas; Morna, consolo d’nós alma; Mosca estranho; Na céu tem um strela; Na incontro di mar; Nem cu manduco; Nha coraçon ca tem dono; Nha mocidadi; No fundo do poço; Nó na garganta; Nós filosofia; Nós mazurca; Nós poeta Rodrigo; O amor tem loucuras; O ausente; Olhar retraído; Os meus 20 anos; Partida; P’ra viver um grande amor; Relembrando Brasil; Sal nha destino; Samba Palop; Saudades; Sementeira; Sodade d’nha terrinha; Sodade de Cabo Verde; Súplica d’um emigrante; Terra de Eugénio; Tradicionalíssimo; Um Cabo Verde unido; Valsa dolente; Verdianinha singular; Viagem sem retorno; Vida d’imigrante; Vila Nova Sintra; Virgindade.

Discografia

  • Força di cretcheu, LP, Brazuca Publishing, Brockton, 1985.
  • Es quê nha terra Cabo Verde, LP, Brazuca Publishing, Brockton, 1987.
  • Cretcheu na paz, CD, Brazuca Publishing, Brockton, 1993.
  • Fama sem probetu, CD, Brazuca Publishing, Brockton, 1996.
  • Vuca Pinheiro & amigos, CD, Brazuca Publishing, Brockton, 2000.
  • Terra de Eugénio, CD, Brazuca Publishing, Brockton, 2009.
  • Novo horizonte, CD duplo, Brazuca Publishing, Brockton, 2012. Com vários artistas convidados.
  • Marchas de fim-de-ano da Ilha Brava, CD, Brazuca Publishing, Brockton, 2012. Com vários artistas convidados.
  • Participações em trabalhos coletivos e de outros artistas: Peace, Love and Unity, 1990; Gardénia canta Silvestre Faria e amigos, 2014; Sãozinha canta Eugénio Tavares, 1993;  Feliz Ano Nobu, 1996, de Danny Carvalho; Alma Cabo-verdiana, 2005, de Armando de Pina; Nostalgia, 1999, de Luís Morais.

Obras publicadas

  • Extratos da poesia caboverdeana, Brazuca Publishing, Brockton, 1993.
  • Desenvolvimento comportamental, edição online, 1998.
  • Retalhos de uma Vida, Brazuca Publishing, Brockton, 2015.

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