Luís Morais

Por GN em

Luís Morais, c. 2000. Fonte: Paralelo 14

Luís Ramos Morais

Mindelo, São Vicente, 1935 – New Bedford, EUA, 2002

Instrumentista (sopro), compositor, arranjador, regente, professor

Luís Morais é lembrado ano após ano pelo “Boas festas”, tema tradicional da passagem do ano para o qual fez um arranjo e gravou, conseguindo um dos maiores êxitos musicais de sempre em Cabo Verde. Foi um artista com uma carreira multifacetada, como intérprete a solo, compositor de letra e música, líder de grupos, regente de banda, professor… Veio duma família de músicos em que todos tocavam instrumentos de sopro, especialidade em que se tornou o expoente máximo na música cabo-verdiana. Tal como os seus tios Pitrinha (que comandava a Banda Municipal de São Vicente quando o futuro clarinetista nasceu) e Duca de Nho Pitra, Luís Morais passou também pela banda e foi um aluno prodígio de Nho Reis, nos anos 1950 e 1960.

Aos 18 anos, decide formar um conjunto “para ganhar dinheiro”. Era o Conjunto Tropical, que, a certa altura, em meados dos anos 1950, foi atuar na Guiné-Bissau, segundo Luís Morais. Depois do serviço militar, segue para o Senegal, para estudar num conservatório. Passou 8 anos em Dacar tocando no grupo Miami Jazz, num night club chamado Bodega e no Saloum Rhythm, acompanhando artistas de diferentes origens. Nessa altura, os ritmos latino-americanos davam o tom às noites de Dacar, influência que marcaria o seu repertório durante anos e anos.

Djunga de Biluca, que em 1967, pela sua editora, Casa Silva, lançou o LP Boas Festas

O passo seguinte foi a Holanda. Em Roterdão, em 1965, forma, com Frank Cavaquinho, Jean da Lomba, Toy Ramos e Morgadinho (e ainda Bana e Djosinha como vocalistas, em diferentes momentos) aquele que veio a ser um dos mais célebres grupos musicais do seu país: o Voz de Cabo Verde (I) que dura quatro anos.

Além dos álbuns do grupo, grava em nome próprio mas com acompanhamento do Voz de Cabo Verde cerca de uma dezena de LP. Com a saída de Jean da Lomba, Toy Ramos e Morgadinho, entram novos integrantes, mas a partir de certa altura Luís Morais, já em Portugal, forma um outro grupo, em parceria com Bana, utilizando o mesmo nome. Mantendo-se entre Portugal e Cabo Verde, grava cerca de 15 discos acompanhado por este novo Voz de Cabo Verde (II), mais tarde com novas mudanças nos seus membros, e que dura até meados dos anos 1980.

As histórias do ‘Ti Lis’, como nós, os alunos, o chamávamos, na sala de aula são de todos conhecidas. Tentava ensinar a pauta, as notas e as claves, mas ninguém estava para aquelas ‘chatices’ e, a pouco e pouco, ele também não. É que Luís Morais não era professor; era músico, um artista, e único. Mas tinha muitas histórias.

Álvaro Ludgero Andrade, www.visaonews.com (29.09.2002)

A sua discografia é difícil de descortinar inteiramente, pois provavelmente o artista incluía determinadas músicas já editadas em álbuns novos, misturadas com gravações inéditas. Por outro lado, as reedições em CD em nada ajudam a esclarecer, pois nem sempre reproduzem rigorosamente os dados das fichas técnicas, sem contar que estas, por sua vez, são frequentemente pouco esclarecedoras. Individualmente, registou cerca de 30 títulos, entre EP, LP e CD, em que há lugar para um pouco de tudo – da tradição das ilhas ao choro e samba brasileiros, passando pela cumbia, merengue e outros ritmos latino-americanos, que, além de interpretar, compunha, É autor, provavelmente, de mais de uma centena de músicas. Paralelamente à sua carreira a solo, gravou a acompanhar um número incontável de intérpretes da música cabo-verdiana e integrou, na década de 1970 e na seguinte, o grupo Cabosamba.

Luís Morais foi um pioneiro nas gravações realizadas em Cabo Verde. No final dos anos 1950 – com Malaquias Costa ao violino e Lela Preciosa ao violão – acompanhou Titina, Djosinha e Amândio Cabral nas gravações feitas na Rádio Barlavento que resultaram na série Mornas de Cabo Verde, editada pela Casa do Leão.

Depois do período passado em Portugal no início dos anos 1970, regressou a Cabo Verde na época da independência, tendo sido convidado pelo governo a fazer a orquestração do hino do PAIGC, que foi adotado como Hino Nacional do novo país. Ficou a residir na sua ilha, dividindo-se entre o ensino no liceu Ludgero Lima e a direção da Banda Municipal, que assumiu após a reforma de Jotamonte.

Composições

Abol sem Brincadera (parceria com Djunga de Biluca); Agora e so Yeye; Amor di Perdição; Anildo Morais; Anjo de Criança; Ano Feliz; Assim; Ba Bo Bem; Bedjiça; Bela Vista; Bo e sabe; Bo Imagem (parceria com Djunga de Biluca); Cabo Verde de Nôs; Cuidode na bo Vaidade; Cumbia Alegre; Cumbia Gostoso; Cumbia Nau; Cumbia Zau; Del Monte; Delicadeza; Djeylen (parceria com Morgadinho); E Medjor Bó Feca Calode; Explusão 2002; Falam Verdade; Felicidades à Família; Fidjo di Ninguém (parceria com Djunga de Biluca); Foi; Fulia; Futuro de Nôs Terra; Graças a Deus; História de Nha Vida (parceria com Djunga de Biluca); Hora Marcode; Improviso Voz de Cabo Verde; Infelizmente; Inteligência Universal; Intro – Voz de LM em Formidável; Lágrimas; Lamento; Largame da Mon; Linda Melodia; Louvor; Madrugada; Maravilhosa; Maria Graciela; Matiota; Matmatica; Mdjer, Coque e Bafa (parceria com D. Neves); Mentiroso D´Jon; Merecimento de Mãe (parceria com Djunga de Biluca); Meu Pressentimento; Mindelo; Monte Cara; Morena; Nely; Noite Sem Estrelas; Nôs Realidade; Novidade; Outra Vez; Pensando; Peyk; Problema; Puede Ser; Quando Llora el Alma; Quebra Cabeça; Ragoce d´Manhe (parceria com Djunga de Biluca); Regresso; Renda d´Casa; Sacramento; Samba Bela Morais; Samba Sissi; Santa Catarina; Saudades; Segredo de Nha Vida (parceria com Djunga de Biluca); Sempre em Frente; Sentimento Profundo (parceria com Djunga de Biluca); Slow Melodia; Sodade de Cabo Verde; Sofrimento de Sodade (parceria com Djunga de Biluca); Sonhando; Stóra mais Stóra; Surpresa; Tchica Linda; Tchora pa questigue; Teiza; Ternura; Titi; Traze Azar; Tristeza; Última Hora; Um Ca Ba Laral; Prigosinha; Vamos Bailar; Velocidade (parceria com Morgadinho); 24 de Setembro.  Obs.: a lista pode conter imprecisões resultantes das informações das capas dos discos.

Discografia

  • Flores negras, EP, Morabeza Records, Roterdão, [déc.1960] (em nome de Conjunto musical de Luís Morais).
  • Luís Morais acompanhado de Voz de Cabo Verde, EP, Morabeza Records, Roterdão, [déc.1960].        
  • Boas festas, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1967 (com Voz de Cabo Verde). Reedição em CD Sons d’ África, [?].
  • Romance do nosso amor, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1967.
  • Sensational, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1969 (com Voz de Cabo Verde).
  • Welcome, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1969.
  • Adorável, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972 (Luís Morais e seu conjunto).
  • Mona linda, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972. Reedição em CD SA, 2003.
  • Sacramento, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972,
  • Saxo show, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972.
  • La Bonanza, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972 (Luís Morais e seu conjunto).
  • Loin de toi, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972.
  • La violenta, LP, Morabeza Records, Roterdão, 1972.
  • Luís Morais, LP, [?], Lisboa, [déc.1970] com Voz de Cabo Verde. Reedição em CD SA, 2003.
  • Luís Morais e Voz de Cabo Verde, LP, Carrondo Records, [déc.1970]. Reedição em CD SA, 2003.
  • Luís Morais em Lisboa, LP, Carrondo Records, [déc.70]. Reedição em CD SA, 2002.
  • Broadway, LP, Do-La-Si/Electromovel, Lisboa, 1973. Reedição em CD SA, Série Sodade 3.
  • Cabo Verde 74 – Mornas e coladeiras, LP, Do-La-Si/Electromovel, Lisboa, 1974 (Luís Morais e seu conjunto – com Longino e Djô).
  • Cumbia, LP, Voz de Cabo Verde, Lisboa, 1975.
  • Moche de ronda, LP, Voz de Cabo Verde, Lisboa, [1976].
  • Ternura, LP, Voz de Cabo Verde, Lisboa, sem data.
  • Êxitos, LP, Voz de Cabo Verde, Lisboa, [1977].
  • Fantasia, LP, Voz de Cabo Verde, Lisboa, 1978 (com Bana). Reedição em CD Sons d’África, [?].
  • Love story, LP, DMC, Lisboa, 1979.
  • Luís Morais, LP, DMC, Lisboa, 1980.
  • Morena, LP, Voz de Cabo Verde, Lisboa, 1980.
  • O internacional, LP, Do-La-Si/Electromovel, Lisboa, 1984. Reedição em CD Sons d’África, Série Sodade 2, [?]
  • Choro de clarinete, LP, DMC, Lisboa, 1985 (com Voz de Cabo Verde e participação de Chico Serra). Reedição em CD Sons d’África, sem data.
  • Sons de Cabo Verde, CD, Zé Orlando/Sons d´África, Amadora, 1991.
  • Sentimento de Cabo Verde, CD, Sons d’África, Amadora, 1992.
  • Boas festas Cabo Verde (compilação), CD, Lusafrica, Paris, [déc. 1990] (reedição num único CD dos discos Boas festas e Romance do nosso amor).
  • Lágrimas, CD, Lusafrica, Paris, 1993.
  • Nostalgia, CD, e/a, São Vicente, 1999.
  • Novidade de Mindelo, CD, Lusafrica, Paris, 2002.
  • Best of Luís Morais, CD, Sons d’África, Amadora, 2003.
  • Luís Morais – O saxofone de ouro, DVD, Sons d’África, Amadora, [déc. 2000].

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