Sara Tavares

Por GN em

Sara Tavares, sem data. Foto Marlene Nobre

Sara Alexandra Lima Tavares

Lisboa, 1978 – Lisboa, 2023

Cantora, compositora

Sara Tavares despontou no cenário musical português em 1994, aos 16 anos, ao vencer o concurso Chuva de Estrelas, a imitar Whitney Houton, e, pouco tempo depois, o Festival RTP da Canção, o que lhe deu o direito de representar Portugal no festival Eurovisão. Consegue o oitavo lugar entre 24 concorrentes, mas já antes do final do concurso tinha assinado contrato com a BMG, acedendo assim a um patamar de produção e edição, o das grandes companhias internacionais do disco, a que poucos artistas cabo-verdianos tiveram acesso. Começava aí uma carreira em que inicialmente a soul music e o gospel davam o tom – saliente-se que a religiosidade e fé cristã estiveram sempre bem presentes no discurso de Sara Tavares – mas que algum tempo depois encontra o foco na identidade mestiça.

A sua discografia começa por Sara Tavares & Shout (1996), CD single gravado com um grupo gospel formado especialmente para acompanhá-la, composto por jovens portugueses ligados a igrejas evangélicas sob a coordenação de um missionário norte-americano, Dale Chappell. Mi ma bô(1999), que vem a seguir, conta com o congolês Lokua Kanza como produtor e guitarrista. Disco de ouro em 2000, para Mi ma bô e Globo de Ouro como melhor intérprete do ano em Portugal para a cantora foi o resultado deste álbum em que Sara é coprodutora e aparece com composições próprias.

Se até aí Sara Tavares é apresentada como promessa de uma “preciosidade da música portuguesa”, como se pode ler no jornal Expresso (13.11.1999), este momento marca a fase em que a artista se encontra culturalmente com Cabo Verde, passando a cantar em cabo-verdiano e buscando no contato com outros artistas do país (Paulino Vieira, Tito Paris, entre outros) uma ligação que a sua vivência em Portugal não lhe permitiu – foi criada em Almada, arredores de Lisboa, por uma portuguesa a quem os seus pais, cabo-verdianos, a confiaram, ao seguirem caminhos diferentes. É justamente nessa encruzilhada de influências entre a África e a Europa que é a Lisboa desse período que a artista vai forjar um estilo muito pessoal.

A década de 2000 começa com o aprofundar da sua ligação com Cabo Verde – é nessa altura que participa, num dueto com Djurumani, na opereta Crioulo (estreia em 2002), criação de Vasco Martins com coreografia de António Tavares, e em Ruínas, peça da companhia de dança Raiz di Polon em cuja criação Sara colabora, atuando unicamente na estreia (Mindelact, 2003) devido aos compromissos da sua carreira. De Nua e Guisa, composições do álbum que segue, Balancê (2006) foram compostas para este espetáculo.

A partir de Balancê a artista passou a trabalhar com a etiqueta holandesa World Connection. O seu trabalho foi ganhando mais visibilidade: Balancê foi disco de ouro em Portugal; Sara foi nomeada para a categoria Artista Revelação nos World Music Awards da BBC Radio 3, na Inglaterra; percorreu a Europa a atuar em festivais de world music e atuou também no Japão e nos EUA. Balancê traz um dueto com Boy Gé Mendes, que depois passa a tocar guitarra nos seus concertos. Depois de um álbum gravado ao vivo em Lisboa, de que resulta CD e DVD, foi a vez de Xinti, em 2009. No ano seguinte, um problema de saúde afastou-a dos palcos temporariamente. Tratava-se de um cancer no cérebro, que iria determinar a sua morte em 2023.

Fitxadu, agora com a Sony Music, veio em 2017. Em 2018, este álbum recebeu nomeação para o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa.

Nos seus discos, Sara Tavares canta em português, inglês e crioulo, com a voz doce que no concurso de 1994 abriu caminho para uma carreira muito pessoal, nem portuguesa nem cabo-verdiana – “não me sinto autorizada em interpretar a música de Cabo Verde, e não digo que canto música cabo-verdiana, aliás, sou uma aprendiz da cultura cabo-verdiana (…) toda a minha escola de canto é outra, foi a escola americana”, dizia em 2003 (Artiletra, Set/Out 2003).

Ela, que iniciou a carreira a cantar como Whitney Houston, foi por sua vez modelo em concursos posteriores, por exemplo, para Sofia Barbosa no concurso Operação Triunfo, em 2002, entre outras ocasiões. Paralelamente à sua carreira, refira-se alguns trabalhos pontuais realizados: em 1996, gravou o tema “Longe do mundo”, do filme O corcunda de Notre Dame, versão considerada a melhor do mundo em língua não inglesa, o que lhe valeu uma menção honrosa dos estúdios Disney, para o qual gravou também temas do filme Hércules, em 1997; o seu tema “Eu sei”, do álbum Mi ma bô, integra a banda sonora da telenovela brasileira A padroeira (TV Globo).

Ao longo da sua carreira, Sara Tavares colaborou com diferentes artistas e grupos portugueses, como Júlio Pereira, António Chainho, Ala dos Namorados, Buraka Som Sistema, entre outros.  O seu último trabalho foi “Kurtidu”, um single lançado em setembro de 2023.

Discografia

  • Sara Tavares e Shout, EP, BMG Portugal, Lisboa, 1996.
  • Mi ma bo, CD, BMG Portugal, Lisboa, 1999.
  • Balancê, CD, World Connection, Amesterdão, 2005.
  • Alive in Lisboa, CD/DVD, World Connection, Amesterdão, 2007.
  • Xinti, CD, World Connection, Amesterdão, 2009.
  • Fitxadu, CD, Sony Music, Lisboa, 2017.
  • Kurtidu, single, 2023.
  • Participação na banda sonora da telenovela A padroeira (TV Globo, Brasil), com o tema “Eu sei”, do álbum Mi ma bô.
  • Participação no CD Solta-se o beijo, 1999 e no CD single Solta-se o beijo, 2000, do grupo Ala dos Namorados. 
  • Participação com o tema “Chamar a música” no CD Festival da canção, 2007.

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