Carnaval em Santiago

Por GN em

Esta secção encontra-se em elaboração. Para completá-la, incentivamos os grupos, foliões e outros interessados no Carnaval em Santiago a enviar informações e fotos para contato@caboverdeamusica.online. Mas merece ser conhecido desde já um documento que mostra uma faceta do Carnaval na cidade da Praia há quase 100 anos.

Recordações de um Carnaval de há 90 anos

Por Gláucia Nogueira

Fantasiados década de 1930.
Fonte: Voz di Povo

No jornal Voz di Povo, em 09.02.1992, o jornalista Gabriel Raimundo publicou um texto sobre o Carnaval na cidade da Praia na década de 1930, baseando-se nas memórias de Alfredo Santos, na época com 81 anos, que lhe transmitiu as suas recordações.

“Era uma maravilha ver o Carnaval na Praia! E não havia confusão”, recordava Santos. O desfile acontecia nas ruas do Plateau, que era então a parte urbana da cidade, e depois disso os foliões dirigiam-se aos salões onde decorriam bailes. Um era na rua Andrade Corvo, o outro na rua da República, atual 5 de Julho (rua pedonal).  

Alfredo Santos, que foi presidente do grupo Elite Praiense, revelou ao jornalista que os membros da agremiação pagavam uma quota mensal, que recebia um reforço na época do Carnaval, e tinham direito aos comes e bebes. “Não faltava leitão, bolos, bebidas…”. Na Achada Santo António havia o grupo Maravilha. Não havia rivalidade entre eles. Quando um grupo promovia um baile, convidava o presidente, o secretário e o tesoureiro do outro grupo.  

Segundo Alfredo Santos, o grupo tinha uma espécie de “tribunal” que julgava infrações dos seus membros, e os punia quando considerado necessário. Havia delegado, juiz e escrivão. O “delito” mais comum era um dos membros do grupo, durante um evento, como um piquenique, por exemplo, embriagar-se e “começar a disparatar”. Segundo Santos, o faltoso “sentava-se no banco dos réus, era julgado e recebia a sentença”. As penas iam de 30 a 100 escudos.

“As ruas ficavam todas engalanadas. Preparavam-se carros alegóricos, cada um com seu tema, como por exemplo barcos de guerra com marinheiros, capitães, pilotos, e de lá eram atirados pelas janelas saquinhos de farinha de trigo para a multidão”.

Alfredo Santos, em entrevista ao Voz di Povo, 1992, sobre o Carnaval na Praia nos anos 1930

Por vezes, “os ecos da animação chegavam até ao Palácio, não dando até sossego ao governador, que metia a esposa no seu Buik e rolava para a porta da sala de baile, onde contava com o convite do presidente do grupo”, relata o texto do Voz di Povo. Naquele tempo, segundo a recordação de Alfredo Santos, “não se viam basbaques à porta ou em cima do passeio, a espreitar os que dançavam. À porta da casa do baile estacionavam polícias e os curiosos tinham que mirar do outro lado da rua.”     

Carnaval anos 1930. Fonte: Voz di Povo

“No final do baile levávamos as damas diretamente a casa dos pais, debaixo de música. Entregávamos uma a uma… E nem se beijava nas festas! Era dançar desgarrado e com respeito, as próprias moças impunham isso. E havia no grupo um chefe das damas como vigilante, para ver o comportamento dos pares.” A cada ano eram eleitos um rei e uma rainha, que sentavam num trono. Caso houvesse alguma queixa, o chefe das damas encaminhava-a para a rainha, que a comunicava ao rei, que mandava reunir o tribunal.

Outro aspeto destacado pelo texto do Voz di Povo é o namoro, com todo o recato dos padrões da época. Ninguém namorava nem no cortejo nem na sala de baile. “Tínhamos os nossos momentos de namoro, mas fora do grupo”, relatou Santos, recordando que, para dar um beijo, era às escondidas. Contudo, havia um momento durante o baile, às 5 horas da manhã, em que se apagavam as luzes durante cerca de 5 minutos, e então podia-se dar um beijo à namorada. Por vezes, o encarregado de pilotar o interruptor acendia as luzes antes do combinado. “Fazia aquilo de abuso e nós refilávamos: Que diabo de coisa é essa pá! Fecha aquela gaita!” Depois o baile continuava, como se nada tivesse acontecido. Isso era num tempo em que os encontros com as namoradas eram à janela, elas lá em cima, eles no passeio. Mas se algum vizinho visse, ia logo contar aos pais: “Olha, a tua filha está a namorar com fulano de tal, eu vi!”

Pena este interessante relato não incluir informações sobre as músicas tocadas e os grupos musicais que animavam os bailes.     

Fonte: Raimundo, Gabriel, “Arquivo vivo dum octogenário. O Carnaval dos anos 30 na Praia”, Voz di Povo, 09.02.1992


Imagens de um Carnaval em são Domingos

Convidamos os foliões a enviarem fotos e informações sobre as suas festas de Carnaval, nos diferentes municípios, para que as várias formas de festejar o Carnaval fiquem aqui representadas. Estas são imagens do Carnaval de 2010 em São Domingos.

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