Malaquias Costa

Por GN em

Malaquias Costa, Mindelo, 2011 (DR)

Malaquias António Costa

Corvo, Ribeira Grande, Santo Antão, 1925 – Mindelo, São Vicente, 2013

Instrumentista (cordas), compositor

Malaquias Costa, membro de uma família de instrumentistas em que o mais conhecido foi o violinista Nho Kzik, fez a ponte entre o mundo dos bailes de rabeca e os palcos da contemporaneidade. Nascido em Santo Antão, com 9 anos foi para São Vicente viver com a madrinha, e ficou. “Antes de ir para São Vicente já tinha ‘manha’, vontade de poder tocar. Primeiro, viola de dez cordas, depois cavaquinho…”, contava. Em São Vicente, foi aprendendo, no contacto com músicos como Luís Rendall, B.Léza e Mochim d’Monte. “Quando faltava um elemento do grupo, Mochim d’Monte chamava-me, apesar de eu ser ainda um garoto, mas confiava, pois eu já conhecia o seu reportório”. Tocavam em bailes. Eram grupos acústicos formados por duas violas de dez cordas, um violão e um violino. “Naquele tempo não havia barulho, a malta dançava muito animada, mas sem gritar”, recordava, já idoso.

Trabalhou como servente no hospital do Mindelo, “primeiro na secretaria, depois na enfermaria, nas urgências”, e lembra que foi quem deu a B.Léza as suas últimas injeções. Esse trabalho ajudou-o a ganhar a vida. “Fartei-me de andar em São Vicente a aplicar injeções de um lado e de outro, para ganhar mais algum, que a vida é dura e eu precisava de dinheiro”, contava o músico que também trabalhou como barbeiro e na EMPA, empresa estatal pela qual se reformou em 1991.

A partir de então, já septuagenário, participou em várias iniciativas artísticas, entre as quais os espetáculos Dançar Cabo Verde (1994) e Uma história da dúvida (1998),da coreógrafa portuguesa Clara Andermatt. O CD com as músicas de outra peça de Clara Andermatt, Dan dau, traz o violino de Malaquias em temas recuperados do espetáculo de 1998. Em 1995, participou do festival da Smithsonian Institution nos EUA, nesse ano dedicado a Cabo Verde. Ainda nos anos 1990, entrará como ator em dois filmes, Ilhéu de Contenda, do cabo-verdiano Leão Lopes, e O Testamento do Senhor Napomuceno, do português Francisco Manso, a tocar o seu violino, que aliás comparece na banda sonora de ambos. É também nos anos 1990 que aparece a solar o seu instrumento de eleição no tema Angola Angola, do CD Miss perfumado, de Cesária Évora, um dos maiores sucessos da música cabo-verdiana a nível mundial. No disco anterior de Cize, Mar azul, é da sua autoria a composição Cabo Verde.

Depois de alguns anos em Portugal, regressou a São Vicente, onde, antes que a idade o impedisse, pôde ser visto durante anos a animar restaurantes e espaços com música ao vivo, desfiando um repertório ilimitado, sempre extrovertido e irrequieto, com o seu boné branco, a rodopiar entre as mesas conquistando a atenção dos turistas. Muito antes disso, no início dos anos 1960, tocara em gravações de Marino Silva e acompanhara Amândio Cabral num dos EP gravados na Rádio Barlavento, em São Vicente, integrado num grupo que incluía Lela Preciosa e Luís Morais. Será por essa época que teve como pupilo Humbertona, adolescente, a quem Malaquias punha a acompanhar mornas para aprender violão. Ainda nos anos 1960, esteve ligado aos grupos Os Alegres e Os Crioulos. Sem nunca ter gravado a solo, dizia ter várias composições inéditas – mornas, koladeras e solos de violão.

Caracterizado por uma energia transbordante, Malaquias Costa, embora debilitado nos seus últimos anos, desfilou no Carnaval de 2013 num carro alegórico do grupo que o homenageou nesse ano, o do Monte Sossego, bairro onde residia. Poucas semanas depois, faleceu.

Composições

Cabo Verde; Dr. Fonseca; Esperança (parceria com João Freitas); Fantasia; Mar brob.


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