Nhelas Spencer

Por D O em

Daniel Spencer Brito

Nhelas Spencer – Foto: Facebook

Espargos, Ilha do Sal, 1954

Compositor, instrumentista (violão)

Compositor com temas gravados por vários dos principais intérpretes da música cabo-verdiana, Nhelas Spencer teve pelo menos dois dos seus temas, “Nha terra scalabrode” e “Torrão di meu”, transformados em clássicos na voz de Ildo Lobo, como vocalista d’Os Tubarões. Estas duas mornas de exaltação à terra foram interpretadas anos depois por Nhonhô Hopffer em gravações que contaram com o próprio Nhelas ao violão. Nas suas composições, transparece habitualmente o observador de situações quotidianas, pinceladas com certo humor, outras vezes virando-se para a crítica social e de costumes, mas há lugar também para os temas românticos, em criações que, enquadrando-se geralmente nos ritmos da morna e da koladera, são peculiares pela beleza melódica e pelas sequências harmónicas que fogem ao habitual.

Nhelas Spencer vem de uma família de músicos – o seu pai, Manuel Eugénia, e irmãos tocam instrumentos de corda; o compositor Alcides Spencer Brito é seu irmão – e desde cedo tocou em casa e em alguns grupos efémeros na ilha do Sal. Fizeram também parte do seu percurso três anos de violão clássico numa escola de artes em Bucareste, que frequentou enquanto fazia a sua formação universitária, na Roménia, entre 1975 e 1982. Nesse período, ao mesmo tempo em que estudava medicina veterinária, tinha uma vida cultural muito intensa. Como intérprete do violão, foi considerado o melhor entre os estudantes de Bucareste, em 1980, e no festival Cantare Romania (Canto da Roménia) o seu grupo ficou em terceiro lugar. Na altura, com outros estudantes, tinha um grupo de jazz-rock, no qual o percussionista Elísio Faria (mais tarde membro do Simentera) participou a certa altura.

De volta a Cabo Verde, toda a década de 1980 foi também um período de muitas atividades. Em 1983, participou no disco gravado na Holanda pelo Grupo Cultural Mantenha, do qual foi o coordenador. No LP, aparece numa das suas raras gravações e neste caso a cantar, interpretando o tema “Mariana”, de Vlú. Outras gravações da sua voz e neste caso a interpretar temas próprios, encontram-se no LP Camin d’América, de 1987, do grupo Serenata, criado para assinalar a ligação aérea Sal-Boston. Em 1986 e 1987 Nhelas Spencer foi finalista do prémio Découvertes, atribuído a artistas que se destacam nos países francófonos, sendo que na segunda vez ficou em segundo lugar entre 90 concorrentes. Em 1988, recebeu em Cabo Verde o Prémio B.Léza. Em 1989, viajou ao Brasil para assessorar o Quinteto Violado na gravação do LP Ilhas de Cabo Verde, na sequência de uma deslocação desse grupo a Cabo Verde. O disco inclui um tema de Nhelas. Ainda nos anos 1980, na Praia, foi um dos dinamizadores do Movimento Pró-Cultura.

Mais tarde, já nos anos 1990, participou no Quarteto em Si – com Djinho Barbosa, Paulo Martins e Jorge PimpaDificuldades em compatibilizar a agenda dos membros do grupo impediram que vingasse. Antes de tudo isso, ainda no Sal, tocou nos grupos Os Únicos, Voz Djassi e Improviso. A gravação de um disco a solo, por vezes anunciada, vai sendo sempre adiada.

Apesar da sua formação em veterinária, Nhelas Spencer só exerceu a profissão nos primeiros anos após o seu regresso a Cabo Verde, na área de controle de qualidade de pescado. Em finais dos anos 1980 entrou para a Direção-Geral de Animação Cultural e de 1991 a 1997 ocupou o cargo de presidente do Instituto Cabo-Verdiano de Cinema. De 1992 a 1996, foi vereador da Cultura e Educação na cidade da Praia e de 1995 a 2001 foi deputado pelo MpD à Assembleia Nacional. Foi também membro da Assembleia Municipal do Sal.

Composições

Amdjer ca Bitche; Amdjer n’afronta; Amor Ê Tão Sabe; Autocrítica; Cabverde visão d’cooperante; Cretcheu Tem Pena d´Mi; Desilusão dum Amdjer; Fitcha un Oie; Ilusão dum Amdjer; Joana; Mãe d´Fidje; Malcustumode; Missão d´Serviço; Nha Terra Scalabrode; Poc li Dente É Tcheu; Profilaxia; Tchau; Ti Jom Poca; Torrão di Meu.

Discografia

  • Participação no LP Camim d’América, 1987, do grupo Serenata, a interpretar os temas “Sodade tens pena d’mim” e “Amdjer ca bitche”.
  • Participação no LP Mantenha, 1985, do Grupo Cultural Mantenha, a interpretar o tema “Mariana”, de Vlú.
  • Participação no CD Trás di Son, de Djinho Barbosa (2006), tocando violão nos temas “Um zibiu pa tio Abilio”, Fri (free) Son” e “Música na Finata 44”.

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