Ildo Lobo

Por GN em

Ildo Lobo, 2004 (fonte: Lusafrica)

Ildo Neves de Sousa Lobo

Pedra de Lume, Sal, 1953 – Praia, Santiago, 2004

Cantor, compositor

Dono de uma voz sonora, aberta, potente, Ildo Lobo já era um dos artistas mais aclamados pelo público cabo-verdiano muito antes de iniciar a sua carreira a solo. De meados dos anos 1970 a meados da década de 1990, foi, como membro d’Os Tubarões, não só a voz, mas a cara do grupo, ficando as histórias de ambos inevitavelmente ligadas.

Ildo Lobo entrou para Os Tubarões em 1973, substituindo o seu primo Luís Lobo como vocalista. Mas já cantava antes disso. Na adolescência, na Ilha do Sal, participara de grupos de rapazes sintonizados com os recentes sucessos dos Beatles; a seguir, na Praia, para onde se transferiu em 1970 para prosseguir os estudos, integra o grupo África Show, dinamizado por Cesário Duarte

Os Tubarões começaram a gravar em 1976, em plena euforia do pós-independência, com temas que refletiam o momento, a ponto de serem identificados como grupo oficial do regime do PAIGC/PAICV. Durou cerca de duas décadas a carreira discográfica do grupo, que em 1994 lançou o seu último álbum.

Três anos depois do fim d’Os Tubarões, Ildo Lobo iniciou a sua carreira a solo com um álbum só de mornas, que dedica à memória do pai, Antoninho Lobo, afamado cantor de serenatas no seu tempo. A seguir vem Intelectual, em 2001. E em 2004, cerca de dois meses antes do lançamento do terceiro álbum, Incondicional, o cantor morreu subitamente, por problema cardíaco aliado à diabetes, causando enorme consternação em Cabo Verde.

Ildo Lobo vivia desde 1970 na Praia, onde possuía um escritório de despachante aduaneiro. Extremamente popular e desligado do facto de, com a sua voz, ter-se tornado um ícone de um momento crucial da história de Cabo Verde, preferia os botequins do povo aos ambientes mais elitistas. Pura e simplesmente, afirmava, porque era aí que estavam os seus amigos.

Extremamente meticuloso ao escolher o seu repertório, ao longo da sua carreira, seja n’Os Tubarões, seja a solo, a sua voz foi veículo para a divulgação de alguns dos principais compositores cabo-verdianos, com destaque para Manuel d’Novas, bem como para a revelação de novos talentos que foram surgindo junto com o sucesso das suas interpretações: entre outros, Renato Cardoso, Kaká Barbosa, os irmãos Nhelas Spencer e Alcides Spencer, Betú e, mais tarde, Orlando Pantera. Em 1999, regravou um dos seus grandes êxitos, “Djonsinho Cabral”, com letra (de Alberto Rui Machado) alusiva à luta pela independência de Timor-Leste.

Embora não se assumisse como compositor, Ildo Lobo compôs alguns temas, gravados na maior parte pel’ Os Tubarões. A solo, gravou os seus temas “Nha testament”, em Nos morna e “Nha fidjo matcho”, em Incondicional. Após a sua morte, o Palácio da Cultura da cidade da Praia (um casarão na época a funcionar como centro cultural, sob a tutela do Ministério da Cultura) passou a denominar-se Palácio da Cultura Ildo Lobo.

Discografia

  • Nos morna, CD, Lusafrica, Paris, 1997.
  • Intelectual, CD, Lusafrica, Paris, 2001.
  • Incondicional, CD, Harmonia, Praia, 2004.
  • Participação no CD Nôs amor, do Cabo Verde Show.
  • CD Música de intervenção cabo-verdiana: gravação da versão de Djonsinho Cabral” com o título Ask Xanana”.
  • Participação no CD, gravado ao vivo, Noite de Cabo Verde no Zénith, Lusafrica, 2001.
  • Ildo Lobo – A Voz de Ouro (reedição num mesmo pack dos discos Nos Morna, Intelectual e Incondicional), Lusafrica, Paris, 2014.

Composições

Mi Ma Mi; Nha Fidjo Matcho; Nha Testamento; Panhal na Toc; Pensamento; Separaçon; Strela Negra; Zebra.

Ver e ouvir

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