Sema Lopi

Por GN em

Sema Lopi. Foto: Olav Aalberg

Simão Tavares Lopes

Ribeira Seca, Santa Cruz, Santiago, 1940 – Praia, Santiago, 2013

Cantor, Compositor, instrumentista (gaita)

Sema Lopi é, ao lado de Codé di Dona, e autodidata como ele, um dos principais representantes do funaná original com ferro e gaita. Um funaná que há algumas décadas era mais lento que o mais recente – obrigado, pelo gosto popular e pelos produtores, a ser “mais mexido”, como diz o músico em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens.

Quando criança, Sema Lopi andava a pastorear o gado e a cantarolar koladeras e funanás pelas encostas da Ribeira Seca, onde sempre viveu – excetuando a época em que foi para São Tomé e Príncipe, aos 17 anos, fugindo, como muitos outros, às condições inviáveis de sobrevivência no arquipélago naquele período de seca prolongada.

Foi na ilha de São Tomé, onde trabalhou numa fábrica de óleo, que conheceu um conterrâneo, o tocador Jacinto Ferreira, que tinha mais que uma gaita. É Sema Lopi quem conta: “Nos fins-de-semana ele alugava a gaita mais velha por 20 escudos. Eu ficava aprendendo, sozinho. Às vezes ficava com ela até segunda, terça-feira”. A partir de 1961, de volta à terra natal, passa a frequentar Achada Ponta, onde o tocador Antão Barreto animava bailes e atraía alguns discípulos – é lá que Sema Lopi conhece Codé di Dona, na altura também aprendiz. Anos mais tarde, um sobrinho manda-lhe um acordeão de Portugal, e na época da independência de Cabo Verde Sema Lopi é já um veterano na animação de festas na região.

Mais de vinte anos depois, tem a oportunidade de gravar um álbum, a partir do momento em que uma nova vaga de funaná, na esteira do sucesso do Ferro Gaita, resgatando o ferrinho e a gaita, mostra-se surpreendentemente lucrativa, fazendo despertar o interesse dos produtores para o novo filão. Surge então Cabra preta.

Sema Lopi é um daqueles casos de compositores que permanecem praticamente anónimos, enquanto as suas músicas são gravadas em nome de outros, como “tema popular” e muitas vezes com as letras adulteradas. É o caso da composição que leva seu nome, que aparece no segundo LP do Bulimundo, assinada em nome do grupo. Ao gravá-la, quase vinte anos depois, Sema Lopi explica no texto da capa do seu CD que foi uma improvisação sua que se tornou bastante conhecida e foi incluída no repertório do grupo – contudo, sem referir o autor. No mesmo ano da edição do LP com esta composição, o cantor José Casimiro lança a sua versão desta e de outras músicas do repertório do grupo fundado por Katchás. Enquanto isso, na Holanda, Américo Brito, que conheceu a composição na voz de Zeca di Nha Reinalda (então vocalista do Bulimundo), indica como autor, na sua gravação, “Zeca Blimundo”, enquanto o ÁfricaStar dá o tema como popular. Esta composição, que às vezes aparece com o título “Pistana sima arco d’abelha” (trecho da letra), foi também gravada pelo artista francês Antoine (como Bulimundo/Sema Lopi), neste caso com o título “Ouyouyouye”, deixando patente o interesse pela sonoridade do refrão, mais que pela letra da composição.

Enquanto isso, Sema Lopi foi levando a vida, em Ribeira Seca, fazendo agricultura quando “as águas” permitiam ou trabalhando nas obras públicas. Em 1995, apresentou a tradição musical de Santiago no festival da Smithsonian Institution, em Washington, nos EUA. Em 1998, na Expo 98, em Lisboa, integrou o espetáculo Camin di mar, produzido pelo grupo Simentera, a contar a história musical de Cabo Verde.

Cerca de um mês antes do seu falecimento, a Câmara Municipal de Santa Cruz homenageou-o atribuindo o seu nome à escola de música local e a um centro cultural do município.

Discografia

  • Cabra preta, CD, ZO/SA, Amadora, 1998.

Composições

Balanço; Cabra Preta; Chema Lopi; Instrumental; Maninha; Ribera Seca; Sintado na Pracinha; Sodade.


Ver e ouvir

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