Zeca di Nha Reinalda

Por GN em

Zeca di Nha Reinalda, 2018. Foto: Samuel Sequeira/Lux

Zeca di Nha Reinalda

Emanuel Maria Dias Fernandes

Praia, Santiago, 1956

Cantor, compositor

Vocalista do grupo Bulimundo na sua primeira formação, Zeca di Nha Reinalda é uma das vozes masculinas marcantes da música cabo-verdiana. Por volta de 1975, Voz d’África foi o grupo em que principiou. Mais tarde, estava no Opus 7quando Katchás convidou vários dos membros desse grupo para juntos formarem o Bulimundo, em 1978. Neste, Zeca participa na gravação dos quatro primeiros discos, e sai em 1982. O seu papel neste grupo que revolucionou o cenário musical cabo-verdiano no pós-independência é posto em destaque por Zé Augusto Timas (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens), que foi o baterista: “Contrariamente ao que muita gente pensa e crê, já no Opus 7 fizemos algumas experiências no funaná, que foram consolidadas no Bulimundo. Zeca levou alguns temas de funaná para o grupo”.

Recém-saído do Bulimundo, Zeca junta-se ao irmão Zezé di Nha Reinalda para gravarem em Portugal o LP N’ka por si, (1982) sob a direção musical de Paulino Vieira. Nele participam, entre outros, Tey Santos, Luís Morais e Armando Tito. O disco, que homenageia as cantadeiras de finason Bibinha Cabral e Nácia Gomi e o tocador de gaita Toti Lopi, traz na capa fotos de personagens da música em Santiago – Codé di Dona, Kaká Barbosa (autor da faixa título), Caetaninho, Sema Lopi, Ano Nobo, Ney Fernandes e Djirga.

Em 1983, os dois irmãos gravaram Konbersu’l tristi korbo nha xintido, contando no acompanhamento com Duka e Zequinha Magra, ambos também antigos membros do Bulimundo. Na sequência da gravação deste álbum, Zeca, Zezé e Zequinha juntaram-se a cinco elementos do Abel Djassi e com o nome Super Bulimundo fizeram uma digressão aos EUA, de onde trouxeram equipamentos com os quais vieram a fundar o Finaçon, em 1985. Este grupo durou cerca de uma década. Em 1989, um ano depois da morte de Katchás, Zeca, Zequinha Magra e Zé Augusto Timas gravaram o LP Tributo a Katcház – Di passagi, uma homenagem a este músico.

Com o fim do Finaçon, em 1995, Zeca di Nha Reinalda (entr. 1998) lança o seu primeiro álbum em nome individual, gravado nos EUA com Kim Alves, Norberto Tavares e Dick d’Ano Nobo. É uma rapsódia de funanás que foram sucessos na década anterior. Segue-se Na urna (1996), gravado com os TxT (Danilo Tavares e Djuca Teixeira) e com Kino Cabral nos arranjos, programação de bateria, teclas e baixo. Zeca neste momento interage com artistas de uma geração mais jovem que a sua. Além dos musicos citados, nos coros encontram-se nomes como Meno Pecha, Suzanna, Zé Carlos e Grace Évora, além do grupo de batuku Finka-Pé.

O álbum seguinte, Vinti ano depos (1998) assinala a passagem de duas décadas do nascimento do grupo que tornou Zeca di Nha Reinalda conhecido. Foi gravado na Praia, com Djú e Zito (gaita e ferrinho), Zé Lucky (guitarra), Feel Bass (baixo e guitarra), Paló (programação de bateria) e um coro que além do irmão, Zezé, inclui nomes que estavam então a despontar, como Djedjé e Gama. Camponês (2001), por sua vez, é um disco à base de sintetizadores e programação de bateria, com Dabs no comando, dividindo os arranjos com o próprio Zeca. A colaboração com Dabs (teclas e programação de bateria) continua em Dia dia (2004), contando desta vez, no acompanhamento, com Paló, Nista e Adão Brito nas guitarras, este último também no reco-reco. Incursões pelas músicas em voga no momento levam a um repertório em que o funaná, seu território por excelência, se mescla ao zouk e ao soukouss.

Na Caminho (2007), por outro lado, traz o cantor acompanhado por instrumentistas habitualmente a serviço da Lusafrica – Kako Alves, Totinho, Nando Andrade, este nas teclas, arranjos e direcão artística – além de nomes como Manu Lima, Adão Brito e Grace Évora, resultando num disco de registo eletroacústico.

Pelo seu percurso musical, Zeca di Nha Reinalda foi o homenageado na edição 2013 da premiação Cabo Verde Music Awards. Paralelamente à sua carreira como cantor, dedica-se à música enquanto proprietário de um estúdio de gravações.

Discografia

  • N’ka por si, LP, ed. do artista, Praia, 1982. Com Zezé di Nha Reinalda.
  • Konbersu’l tristi korbo nha xintido, LP, e/a, Praia, 1983. Com Zezé di Nha Reinalda.
  • Rei di Funaná – Funaná mix vol. 1, CD, Apolo’s Import, New Bedford, 1995. Há reedições com outras capas.
  • Na urna, CD, Globe Productions, Brockton, 1996.
  • 20 anos depôs, CD, Espace Music Tropica, Paris, 1999.
  • Camponês, CD, Cabo Verde Producions, Praia, 2001.
  • Dia dia, CD, Cabo Verde Productions, Praia, 2004.
  • Na caminho, CD, Harmonia, SV, 2007.

Composições

Ah Minis; Boca Sapo (Zeca); Brincadera; Cigaru; Colarinhos; Cristão; Dan’dau; Dja Bedjâ ; Djokina; Engana Deus; Maçada; Mantchontcha; Manuela; Marido ciumento; Mi sem bo;  Mudjer di Nhó; Mundo Sta na Fim; Na Madorna; Na Sina; Na urna; Nandinha; Nha Infância; Nhu Ntony; Pamodi; Panhan´Sodado; Pê di Polon; Preta; Proverbio; Rabecindade; Ramediado; Salta Cutelo; Sancho na orbadjo; Si Manera; Simplicidade; Sumara Tempo; Susana; Tapu bu banganha; Toma Tom; Tombatorro; Trabu di Kassa; Usa Cabeça.


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