Ana Maria do Rosário Firmino

Santa Maria, Sal, 1953

Cantora

Desde criança, Ana Firmino viveu entre Cabo Verde e Portugal, para onde partiu aos 8 anos. Durante muito tempo a estudar num colégio de freiras, afastada das vivências crioulas, só quando saiu é que começou a conviver com o grupo de amigos do irmão.

Entre eles encontrava-se o futuro marido, o artista plástico António Firmino, na altura a estudar contabilidade em Lisboa. Algum tempo depois, cumprindo o serviço militar, desertou e partiu para a Guiné-Bissau, em finais de 1974. Ana foi encontrá-lo em Bissau dois meses depois. Foi na Guiné que se casaram e, no final de 1975, partiram para São Vicente. Foi então que o desenraizamento da infância e adolescência de Ana desapareceu. “A partir de certa altura tive a sensação de que vivi sempre em Cabo Verde. Há quem estranhe quando digo que fui criada em Portugal”, afirma em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens.

A primeira vez que cantou em público foi durante uma festa de encerramento de um curso de hotelaria, em que participara. Daí resultou um convite para inaugurar a boite do Hotel Praia-Mar, em 1981 (nos primeiros anos de Cabo Verde independente, praticamente a única unidade hoteleira existente, que vinha do tempo colonial, quando era uma pequena pousada). No acompanhamento, Luís Morais, Frank Cavaquinho, Natal e Canhota. Em termos musicais, anteriormente tinha apenas participado em estúdio em coros dos discos de Frank Mimita, em Portugal.

Este pontapé de saída não chegou para iniciar uma carreira e Ana Firmino continuou a trabalhar como secretária, profissão que exercia já em Bissau. Em 1989 gravou o seu primeiro LP, o intimista Carta di nha Cretcheu, com Armando Tito, Toy Vieira e Tito Paris. Nessa altura, apresentou-se com o grupo Sossabe, liderado por Armando Tito, nos Encontros Acarte da Fundação Calouste Gulbenlkian, despertando entusiasmo na imprensa musical portuguesa. Anos antes, com o mesmo grupo, atuara também em Portugal ao lado de Travadinha. Ana Firmino é uma das vozes do LP Paz, Amor e União, produzido por Paulino Vieira e editado em 1990.

Será preciso esperar quase dez anos para um novo trabalho discográfico, Amor e Tão Sabe, na mesma época em que fez duas participações no cinema português de temática cabo-verdiana: O Testamento do Senhor Napumoceno (de Francisco Manso, 1997) e Fintar o Destino (de Fernando Vendrell, 1998). Seis anos mais tarde, lançou Viva Vida.

A partir de 2015, Ana Firmino foi uma colaboradora da organização da “Serenata no Intendente”, evento com o objetivo de exaltar a morna, realizado anualmente nesta praça da cidade de Lisboa. Por outro lado, a cantora criou e protagonizou a série de concertos “Bendita Sois Vozes”, no B.Léza, “um desafio que o B.Léza me fez. Aceitei e todos os meses havia uma edição”. Inicialmente reunia apenas vozes femininas, mas após algum tempo passou a incluir uma voz masculina entre quatro cantoras, tendo por hino a composição “Venham mais cinco”, de Zeca Afonso, esclarece Ana a Cabo Verde & a Música – Museu Virtual.

Personagem musical ligada a Ana Firmino é o seu filho, Boss AC, a desenvolver carreira no rap português desde os anos 1990.

Discografia

• Carta di nha cretcheu, LP, AAPCV/Kola Records, Lisboa, 1989.
• Amor ê tão sabe, CD, EMI-Valentim de Carvalho, Lisboa, 1998.
• Vida vida, CD, NZ Produções, Lisboa, 2004.
• Participação no LP de Travadinha Feiticeira de Cor Morena, 1987.
• Participação no CD Mandachuva, 1997, de Boss AC, com o tema “Tunga”.
• Participação na compilação Putumayo presents Cape Verde, 1999, com “Chico malandro”, do CD Amor ê Tão Sabe.
• Participação em dueto com Jorge Gorila, no tema “Perdão Emília”, no CD Surpresa pa Nha Povo, 2012.

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