Toy Vieira

Por D O em

António de Jesus Santos Vieira

Praia Branca, São Nicolau, 1962

Compositor, multi-instrumentista

Após 30 anos de carreira como músico de palco e estúdio, em 2013 Toy Vieira lançou o seu primeiro álbum a solo, Gratidão, disco instrumental com solos de piano e violão. Aos 20 anos iniciara a sua vida profissional, já que, ao mesmo tempo que Tito Paris, foi chamado em 1982 em São Vicente para integrar o Voz de Cabo Verde, em Lisboa. Ambos entram na fase final do grupo, mas ainda assim tomam parte num grande número de gravações. A maioria dos discos cabo-verdianos dessa época eram gravados sob a responsabilidade do seu irmão, Paulino Vieira, como arranjador, e Toy, recém-chegado a Lisboa, entrou numa roda-viva de trabalho. Desses tempos, recorda “uma vida rígida, difícil em todos os aspetos”. “Eu e o Tito tínhamos acabado de chegar, sem experiência, em Portugal encarámos uma vida profissional com duas responsabilidades: aprender o que não sabíamos e aperfeiçoar o que sabíamos. E trabalhar o tempo todo. Chegávamos a tocar toda a noite a ensaiar, ir para o estúdio às nove da manhã, sair do estúdio às sete da noite, ir para casa tomar um banho e jantar e ir tocar novamente…” (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens).

Toy Vieira não é capaz de dizer em quantos discos tocou desde então, referindo trabalhos de Mirri LoboFernando Quejas, Ana Firmino, BanaLura, entre muitos outros. Um deles ficou verdadeiramente na história: Miss perfumado de Cesária Évora, gravado pelos dois irmãos Vieira, a que se acrescentou depois o violino de Malaquias Costa em “Angola” e o reco-reco de Escabech. Toy faz parte também da tournée de Miss perfumado e toca no disco seguinte, Cesária, de 1995. A sua primeira experiência na produção e arranjos foi São Silvestre, em 1983, disco (EP) de Manuel d’ Novas, que fora a Portugal para gravar com Paulino mas este estava ausente. Então, conta Toy, Manuel d’Novas “obrigou-o” a fazer o trabalho. “Era uma responsabilidade muito grande, não me sentia preparado na altura”. 

À parte as gravações, tocou sempre nas casas noturnas cabo-verdianas de Lisboa, como O Baile, B.Léza, entre outras, na maior parte das vezes ao teclado, embora o seu instrumento preferido seja a guitarra. Diz não gostar muito de ser produtor nem arranjador: “Eu gosto é de tocar, na noite ou em estúdio, guitarra ou piano, cavaquinho…”. Pontualmente, cantou: num LP produzido por Zé Orlando nos anos 1990, Encontro de artistas, e no CD Katchupa rica, álbum coletivo produzido nos EUA por Dany Carvalho.

O seu aprendizado musical deu-se em casa, com os irmãos – quando o seu pai, Santos Vieira, faleceu, Toy tinha apenas 4 anos. “Sendo o mais novo, há sempre a tendência de seguir o que os mais velhos fazem. Comecei a tocar assim. Primeiro violão, depois cavaquinho. Como eu era muito pequeno, não queriam que eu pegasse o violão, com medo que estragasse, então fiz uma guitarra que tinha três cordas de violão – foi tudo o que consegui arranjar. Comecei a aprender a fazer os acordes nessas três cordas” (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens). Enquanto no violão aprendia acordes com os irmãos, no teclado aprendeu tudo sozinho, numa melódica. Por volta dos 12 anos, participa num grupo dos Pioneiros Abel Djassi, tocando em saraus e comícios, nesses primeiros tempos do período pós-independência. Antes disso, o seu primeiro grupo, quando tinha 14 anos, chamava-se Jovens Negros, e dele Toy foi o único integrante que se tornou músico. Passou também pelo Wings, e deste é que foi para Portugal, em 1982.

É a partir do início dos anos 1990 que a sua produção como compositor começa a ser gravada, inicialmente por Vaiss – com três temas no seu primeiro álbum – e a seguir Djosinha, com “Coraj’ermun”, composição que receberá sucessivas regravações. É da sua autoria o tema que dá título ao CD que é o pontapé de saída da carreira de Tito Paris como intérprete a solo, Dança ma mi criola (1994), também com regravações, entre as quais uma do brasileiro Martinho da Vila, quando escolhe temas do universo lusófono para o seu álbum de 2000.

Eclético nos géneros que percorre dentro do universo musical cabo-verdiano e nas ambiências que transmite, tanto em letra como em música, indo do intimista ao saltitante, é dessa variedade que se tece o repertório de Toy Vieira. Em 2014 foi considerado o melhor produtor musical, pelos CVMA, pela produção do seu próprio disco saído no ano anterior, Gratidão.

Discografia

  • Gratidão, CD, Harmonia, Praia, 2013.
  • LP Encontro de artistas (vários artistas), 1990, a interpretar o seu tema “Sodade ca bô frontam”.
  • CD Katchupa rica (vários artistas), 1997, a interpretar o tema “Judeu”.

Composições gravadas

Amdjer cretcheu (parceria com Luís Lima); Ansiedade; Bida Mariadu (parceria com Lura); Brother; Calor di Bo Amor; Cantos de amor/Canto d’amores (parceria com Luís Lima); Contradição; Coraj’ermun; Criola; Dança Ma Mi Criola; D’zemcontre (parceria com Luís Lima); Estrada lundum; Falso Testemunho; Festa di Nha Kumpadri; Lamento Baixinho; Marina; Montecara (parceria com Luís Lima); No Intende; P´ta Dia Pâ Trás; Perdão nos ausência; Romaria; Rosto di Morena; Simplicidade d’ S.Nicolau; Sodade Cá Bo Frontam; Sonha Na Bo; Sperança; Susti Canela (parceria com Sap); Telma coladeira; Traça Nha Rume; Um dia; Violão em Diálogo; Viva Vida.

Ouvir

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