Armando Tito

Por GN em

Armando Tito. Foto: Marlene Nobre

Armando António Boaventura

Mindelo, São Vicente, 1944

Instrumentista (cordas)

Armando Tito Já foi chamado, simplesmente, “O Violão”. Contudo, só após mais de 30 anos de carreira como músico profissional, na década de 2000, é que veio a realizar as suas primeiras gravações a solo, que, contudo, não chegaram a ser editadas comercialmente. Muito antes disso, no princípio da década de 1970, foi com ele que Katchás fez sua iniciação na guitarra.

Não terá sido por acaso que Luís Rendall o escolheu para acompanhá-lo na sua rara gravação doméstica editada sob o título Memórias de um Violão. Mas muitos outros artistas, não só cabo-verdianos, já foram acompanhados por Armando Tito, entre os quais Cesária Évora, em 1968, numa das suas primeiras gravações editadas em disco, ao lado de Djack Monteiro: o EP Segredo de um Coração. O grupo chamava-se Conjunto Mindelo. Mais tarde, Armando Tito acompanhou Cesária nas suas primeiras grandes tournées internacionais e no segundo trabalho discográfico dessa fase, Cesária (1995). Ainda nos anos 1960, teve uma passagem pelo grupo Ritmos Cabo-Verdianos.

Mas no princípio não era este o destino que se queria para Armando Tito. Numa casa onde todos tocavam, inclusive a mãe, por alguma promessa ou superstição desta, que perdera dois filhos de nome Armando, o terceiro – que ainda por cima era o 13.º da prole – foi proibido de aprender música. Mas todas as tardes, quando ela saía para levar o café para o pai, no emprego, o miúdo desaparafusava com uma faquinha a tampa do baú onde ficavam guardados os instrumentos para experimentá-los, clandestinamente. Até que um dia o apanharam a solar, e perceberam que era o melhor de todos.

O pai encomendou então a Mestre Baptista, afamado construtor de instrumentos, um violão pequeno, adaptado aos seus 6 anos. A partir daí Armando Tito tornou-se praticamente um profissional, animando festas com um irmão e um primo. A pessoa que os contratasse, por exigência do pai, levava as crianças e trazia-as de volta, no fim do baile.

Mais tarde aprendeu carpintaria, por causa de uma namorada a cuja mãe não agradava ter um genro músico. Mas foi a música que o fez emigrar para Portugal, no início dos anos 1970, onde participou da fase lisboeta do Voz de Cabo Verde. Na sua permanência no grupo, que deixou em 1982, houve um intervalo de cerca de dois anos, quando trabalhou como cozinheiro num navio liberiano. Da carpintaria não se esqueceu, fabricando belos violões em miniaturas de cerca de 20 cm, que tocam!

Em 1983 formou o grupo Sossabe, que em diferentes ocasiões acompanhou Titina, Ana Firmino e Travadinha em atuações em Portugal, nos anos 1980. Antes disso, ainda no início da década de 1970, formara um grupo com Katchás (guitarra), Datcha (baixo) e Luís (bateria) – todos moradores da casa de Bia dos Anjos, que funcionava como pensão e onde aos fins de semana havia bailes, sendo então um ponto de encontro dos cabo-verdianos em Lisboa. Com Armando Tito desta vez ao saxofone, o efémero grupo chegou a gravar um disco pela Phillips, que, também este, nunca foi editado.

Ao longo da sua longa carreira, o guitarrista tem acompanhado inúmeros cantores e cantoras. Em tempos recentes vem interagindo com músicos de gerações mais jovens, caso do grupo Raíz, formado em Lisboa. Em 2019, Armando Tito foi o homenageado na segunda edição do festival Guitarrada do Atlântico, realizado na Praia e organizado pela Capital Eventos, tendo como diretor artístico Manuel d’Candinho.

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