Cacói

Por GN em

Cacói. Fonte: Facebook/Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design

Ricardo António Francisco

Mindelo, SV, 1938 – Mindelo, SV, 2004

Compositor

Cacói foi uma figura popular do Mindelo, boémio e compositor de saborosas e bem-humoradas koladeras, algumas das quais se tornaram bastante conhecidas. Apaixonado pelo Carnaval, compôs vários temas para os grupos em que participou e fantasiava-se primorosamente a cada ano.

Depois de ter vivido em São Tomé e Príncipe por duas vezes na sua juventude, no regresso a São Vicente encontra trabalho no cinema Eden Park: de dia, circulava pela cidade a divulgar os filmes, com um cartaz pendurado à frente do corpo e outro atrás; à noite, recebia os bilhetes à porta. Trabalhou também como estivados no porto e dedicou-se ao futebol.

Em São Tomé arranjara um “violão” feito com uma lata de azeite, e foi assim que começou a fazer qualquer coisa com as cordas, mas só mais tarde em São Vicente, nos anos 1950, nas noites de música e boémia, é que aprendeu a tocar.

Cacói, Luís Cabel e Ninaja, fim da década de 1960. Foto cedida por Cacói

No CD Cap-Vert Un archipel de musiques, recolha de música tradicional realizada pelo antropólogo francês Jean-Yves Loude, aparecem dois temas que são as suas únicas gravações em disco. Mas a sua koladera “Sabine”, por via de sucessivas gravações, tornou-se um clássico, embora nem sempre apareça nas capas dos discos com a indicação da sua autoria. Por vezes, aparece como autor o próprio Sabino, o marinheiro português que a inspirou. Fica aqui, a versão de Cacói: “Eu tinha uma menina na Ilha d’Madeira. Ele era de um vapor de guerra. Quando eu ia para o cinema, ele ia para a casa dela. Vieram me contar. Não quis acreditar, mas um dia fingi que ia para o trabalho e voltei. Encontrei-o lá. Ela pensou que eu ia matá-la à pancada, mas eu disse: Não vale a pena guerra, eu faço uma música e pronto. Larguei-a, e a música ficou até hoje…”

As suas letras revelam-no como um observador do quotidiano, cheio de ironia e malícia, na tradição dos compositores de koladeras do sem tempo. A uma outra mulher infiel, Cacói dedicou “Cabrinha”. Ironizou cenas dos bairros populares do Mindelo, em “Ana mata tchuk”. Homenageou seus companheiros de boémia e um bar de Monte Sossego – “Rapazes de Ribeira Bote” e “Far west”, esta última título de um disco do grupo Kings. Para além de “Sabine”, o seu tema mais popular é “Dia 15”: “A gente parava de manhã à noite na casa de Maria Leiteira, na Ilha d’Madeira, a comer peixe frito… Nessa época, se o mar era grogue, Cacói era um peixe. Era dia 15, e eu quis fazer uma música para ficar na lembrança: “Falode c’ma dia 15, grogue ti ta bem cabá… Deus defende!”.

Composições gravadas

Ana matá tchuk; Catarina;  Far west; Sabine

Discografia

Participação (com “Dia 15” e  “Ana matá tchuk”) no CD Barlavento do álbum duplo Cap-Vert un archipel de musiques, Ocora/Radio France, Paris, 2000.


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