Joaquim Bangaínha

Por GN em

Joaquim de Pina  

São Filipe, Ilha do Fogo, 1919 – Praia, Santiago, 1990

Num tempo em que os gira-discos ainda não faziam parte das festas em Cabo Verde, o violinista Joaquim Bangaínha era um dos músicos que animavam os eventos, tocando muitas vezes a noite toda, nos bailes, além de ser figura indispensável nas serenatas.

Como muitos músicos populares, pouco se sabe da sua vida, a não ser pelo facto de aparecer como personagem de romances do escritor Henrique Teixeira de Sousa. Para muitos leitores destes livros, Bangaínha pode ser simplesmente um personagem da ficção, mas ele existiu mesmo.  Era pedreiro, mas foi a sua imagem a empunhar o violino que ficou registada na literatura.

Por exemplo, neste trecho de Ilhéu de Contenda:

“Toda a cidade dormia. Gemido de violino varou o silêncio, vindo de longe, de lá das bandas da igreja (…) Bangaínha esmerava-se na execução da morna de Manuel Corcunda, dedicada à filha mais velha de Pedro Simplício da Veiga (…) à frente vinha o violinista de expressão grave, as cordas aos soluços sob as carícias do arco. O cavaquinho e o violão acompanhavam com a mesma gravidade.”

Henrique Teixeira de Sousa, em Ilhéu de Contenda.

Neste trecho, o violinista aparece a solar uma morna, mas do seu repertório faziam parte também as músicas de origem europeia, como a valsa, a mazurca e o paravante, que é o nome que dão na ilha do Fogo à contradança.

Segundo a sua filha, Luísa “Lala” Gonçalves de Pina (entrevista a Cabo Verde & a Música – Museu Virtual, em 2020), Joaquim Bangaínha costumava ser chamado para tocar “em festas grandes, quando vinham ao Fogo  pessoas importantes, como o governador. Ele não era bonito, mas era famoso”. O músico tinha um problema ortopédico (era corcunda).

Por sua vez, Fausto do Rosário, em declarações a Cabo Verde & a Música – Museu Virtual (janeiro/2024) recorda-o a tocar com outros músicos do seu tempo, com os seus “dedos finos e compridos”, e foi um “exímio tocador de violino, não só de mornas e koladeras mas também de ritmos importados como o fox-trot, a mazurca, a valsa, a polca, etc.”

O violinista viveu em São Filipe até 1978, quando transferiu-se para a Praia, onde viveu os últimos 12 anos da sua vida.

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