Manuel d’Candinho

Por D O em

Manuel d’Candinho – Foto: A Semana

Manuel dos Santos Fernandes Pereira

Chaminé, São Domingos, Santiago, 1963

Instrumentista (cordas, teclas), arranjador, produtor musical, compositor

Instrumentista, arranjador e produtor bastante solicitado, viveu na Holanda por quase 30 anos, antes de regressar a Cabo Verde. A música na sua vida começou no tempo que estudou no seminário, na Praia. “Lá tínhamos condições, pois em casa não tinha uma guitarra, custava muito, era uma família pobre, e ninguém em casa tocava”, conta Manuel d’Candinho em Cabo Verde & a Música Dicionário de Personagens. A partir daí, “quando não era escola, era violão. Ou ver as pessoas a tocar. Saía atrás dos tocadores mais velhos que iam fazer serenatas…”

Nos fins de semana, que ia passar em casa, em S. Domingos, encontrava Ano Nobo. Devido ao seu feitio inibido, só observava, não falava, de modo que o compositor demorou para saber que ele já sabia alguma coisa de música – teoria, inclusive, que tinha aprendido no seminário. “Com ele aprendi muito”, recorda. A partir dos 15 anos, integra um grupo denominado Os Camponeses, de que faziam parte o saxofonista Nonó, mais tarde membro do Bulimundo, e Frank de Pina, na bateria, entre outros. Tocavam em festas e bailes pelo interior de Santiago. “Esse era o momento em que Katchás levava o funaná para os palcos, isso teve uma importância para todos nós”, recorda.

Apesar disso, Manuel d’ Candinho teve sempre uma tendência para a morna, no que diz respeito a compor, e afirma que isso terá sido influência de Ano Nobo – “Ele fazia isso à minha frente e eu apreciava, e percebi que compor é a forma mais própria do músico se manifestar.”  

O músico deixou Cabo Verde em 1982, rumo a Portugal, onde tocou em casas noturnas, gravou com vários artistas, trabalhou com o grupo África Star e com Paulino Vieira, entre outros. Em 1985 partiu para a Holanda, a convite de um grupo que estava começando, Tropical Show, que não durou muito. Em 1988, fundou o grupo Safari, com Jacqueline Fortes e Ney Machado como vocalistas, Nhone Lima no baixo e Nito na bateria. A certa altura, foi para a Alemanha, e o grupo desfez-se. A partir de então, passou a tocar em bares, a acompanhar outros artistas, a fazer arranjos e a compor.

A sua discografia é heterogénea. Começa por uma cassete em registo instrumental, de 1982, intitulada Tradição, em que é acompanhado por Armando Tito e alguns membros do África Star. A seguir, vem o LP Si Agu Mar Bira Grogo (1983), com acompanhamento do Tulipa Negra, no qual aparece a cantar. Em 1985 gravou com Tito Paris e Toy Vieira, entre outros, um álbum que é editado na Holanda no ano seguinte, Nha Bida cu di Grilo. Em 1998 vai aos EUA gravar o CD Minino pobre.

Contudo, é só com Alma Son (2002) que realmente mostra a sua mestria nos solos de violão. A propósito, um pouco a renegar os discos anteriores, considerando-os experimentais, afirma em 2005 ao Expresso das Ilhas (03.08.2005): “A minha carreira começa com Alma & Son”.

Depois de quase três décadas na emigração, desde 2011 Manuel d’Candinho vive em Cabo Verde, tendo trabalhado no Ministério da Cultura e participado na Orquestra Nacional de Cabo Verde. Mais tarde foi vereador da Cultura no município de São Domingos. Na retomada de atividades do grupo Bulimundo, a partir de 2016, é um dos guitarristas.

Da esq. para direita: Bau, Voginha e Manuel d’Candinho (foto: Facebook); à dir, com a cantora japonesa Mio Matsuda (foto: Gláucia Nogueira)

Discografia

  • Tradição (instrumental), cassete, ed. de autor, Lisboa, 1982.
  • Si Agu Mar Bira Grogo, LP, e/a, Lisboa, 1983 (com Tulipa Negra).
  • Nha Bida cu di Grilo, LP, Carlos Monteiro, Roterdão, 1986.
  • Minino Pobre, CD, AD Productions, Brockton, 1999.
  • Alma & Son (instrumental), CD, Casa Caboverdiana, Roterdão, 2002.      

Composições

Amigo; Amor e doloroso; Amor é vida; Campetchi; Carta pa bó; Clandistine; Dimingo na Orgon; Funha; Maldita; Melodia; Moia moia; Mudjer na sala; Sima fla; Tempo lindo; Valor di amor; Voz di coraçon.

Ouvir

error: Content is protected !!