Mário Lúcio

Por GN em

Mário Lúcio, 2004. Foto: Gláucia Nogueira

Mário Lúcio Matias de Sousa Mendes

Tarrafal, Santiago, 1964

Cantor, compositor, instrumentista (cordas), arranjador, escritor, entre outros oficios

Compositor-intérprete, escritor e político, Mário Lúcio iniciou a sua carreira musical a solo com o fim do Simentera, grupo de que foi um dos fundadores e liderou, durante cerca de uma década.

O seu primeiro álbum a solo, Mar e luz, um trocadilho com o som do seu nome, sai em 2004 e conta com a participação vocal de Gilberto Gil, Luís Represas e Mayra Andrade. Em Kreol (2010) terá também vários convidados, como Cesária Évora, Pablo Milanés, Milton Nascimento, Teresa Salgueiro, entre outros. Antes, sai um disco live, resultado de um concerto gravado em Portugal, Ao vivo e aos outros (2006) e Badyo (2007). Funanight é o seu álbum de 2017. Nas suas produções, costuma enfatizar um tema que lhe é caro: a mestiçagem como traço fundamental da cultura cabo-verdiana.

Compositor requisitado, tem temas gravados por Lura, Nancy Vieira, Mirri Lobo, Nhonho Hopffer e Mayra Andrade, entre outros intérpretes. Atua também como produtor e arranjador e nesta vertente aparece em álbuns de Teté Alhinho, Maria de Sousa e Lena França, antigas companheiras no Simentera, assim como no primeiro álbum a solo de Ildo Lobo, Nos Morna. Colabora também com Charles Marcellesi, com quem compõe em parceria, e participa nos álbuns Corsicaboverde e Métis. Mário Lúcio também compôs e gravou músicas para filmes de ficção e documentários.

Multifacetado, Mário Lúcio tem também produção na pintura e, na literatura, tem várias obras premiadas. Para a companhia de dança Raiz di Polon, escreveu a peça Adão e as sete pretas de fuligem, de cuja banda sonora é também o autor, e foi escrita a pedido do Porto Capital Europeia da Cultura, em 2001. Além desta, tem outras colaborações com Raiz di Polon.

No início da década de 2000, fundou a Associação Cultural Quintal da Música, que dirigiu, tendo como principal realização o Fesquintal de Jazz-Festival Internacional de Jazz de Cabo Verde, em 2002.

Aos 11 anos, Mário Lúcio foi acolhido como pupilo do exército, passando a viver como interno no quartel que então funcionava nas instalações do que fora, no período colonial, o Campo de Concentração do Tarrafal. Mais tarde, enquanto fazia os estudos secundários, na Praia, fez parte do grupo Abel Djassi, e depois partiu para Cuba, para estudar Direito. Em 1987, participou do concurso Todo o Mundo Canta como representante dos estudantes cabo-verdianos em Cuba. Regressa em 1990 a Cabo Verde, e exerce durante alguns anos a profissão de advogado, antes de dedicar-se a 100% às artes.

Entre 1996 e 2001 foi deputado pelo PAICV e de 2011 a 2016 foi ministro da Cultura de Cabo Verde. Na sua gestão, foi criada a Orquestra Nacional de Cabo Verde (ONCV) e começou a realizar-se anualmente na cidade da Praia a Atlantic Music Expo (AME), uma feira internacional de profissionais da música. Em 2014, a Womex, plataforma internacional da indústria musical, elegeu-o Personalidade do Ano e atribuiu-lhe o Prémio Excelência.

Mário Lúcio foi condecorado em 2005 pelo presidente da República de Cabo Verde com a medalha de mérito cultural da Ordem do Vulcão.  

Discografia

  • Mar e luz, CD, Mélodie, Paris, 2004.
  • Ao vivo e aos outros, CD, Malá Produções, Praia, 2006.
  • Badyo, CD, Harmonia, São Vicente, 2007.
  • Kreol, CD, Harmonia, São Vicente, 2010.
  • Funanight, Maremusica, Praia, 2017.

Composições

A Mar; Alter; Amar Elo; Ami Xintadu; Amori; Barc Pirdid; Barro e Voz; Bolero à revelia; Canto de Buda; Colá Boi; Corre Xintidu; Cretcheu; De sul, de norte; Deus Graça; Diogo e Cabral; Dispidida Cantado; Djuse di Piga; DNA; Dodu; Dor di Amor; Eat Me (ruínas); Equilíbrio; Finaçon de Djusé cu Djoana; Goré; Guerra Fria; Herança; Hinossauro; Homi; Ilha de Santiago; Landu di Amor; Lembrantsa; Libramor; Lua Cheia; Mano Preto Mano Branco; Mar e Luz (encontra-u); Maremar; Maria na Spedju; Marinhero; Mario; Maylen; Mindelo; Momentos e Tormentos; Morna et Citara; Morna pa Ninguém; Morna sem Título; Nha Mudjer; Nha Riqueza; Nhara Santiago; Nhu Ariki; Odju D´Agu; Opson; Oto Morna Sobre Desilusão; Oxi Não; Palavra; Passion; Pretty Down; Princesa; Queima roupa; Raíz II; Raíz; Resposta a Dia C´Tchuva Bem; Reza; Santo Amado; Scodja; Scutam ess Morna; Sentimento; Simentera – Azágua; Simples Sample; Só Minha; Som d´Ilha; Storia di um Hómi; Strela; Tabanka de Tchom Bom; Tabankamor; Tema; Toma-m, Leba-m; Tributo a Santiago; Trubuco; Um Mar de Mar; Variação sobre um Tema de Rendall; Voz; Vulcãozinho; Zita

Obras publicadas  

  • Nascimento de um mundo. ICL, Praia, 1991. Poesia.
  • Sob os signos da luz. Spleen Edições, Praia, 1994. Poesia.
  • Para nunca mais falarmos de amor. Artiletra, Praia, 1999. Poesia.
  • Os 30 dias do homem mais pobre do mundo. Ilhéu Editora, São Vicente, 2000. Romance. Premiado pelo Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, em 2000
  • Vidas paralelas. Ilhéu Editora. São Vicente, 2004. Romance.
  • Salon, Instituto Camões/CCP. Praia, 2004. Teatro.
  • Mário Lúcio Sousa – Teatro (inclui os textos “Adão e as Sete Pretas de Fuligem”; “Salon”; “Sozinha no Palco”; “Vinte e Quatro Horas na Vida de um Morto”; e “Diálogos com Satanás”). Mindelact/IBNL, Praia, 2008.
  • Novíssimo testamento. Dom Quixote, Lisboa, 2010. Romance. Premiado pela Câmara Municipal de Cantanhede em 2010.
  • Biografia do Língua. Imã Editorial, Rio de Janeiro, 2015. Romance. Prémio Miguel Torga, atribuído pela da Câmara Municipal de Coimbra em 2015 e prémio do Pen Clube Português para melhor narrativa, em 2016.
  • O Diabo Foi Meu Padeiro. Dom Quixote, Lisboa, 2019. Romance  
  • Figura na Antologia da Ficção Cabo-Verdiana, vol. III: pós-claridosos, 2002.

Ver e ouvir

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