Minó di Mamá  

Por GN em

Minó di Mamá. Fonte: Sons d’África

Teodolindo Ledo Pontes

São Lourenço, Fogo, 1917 – São Filipe, Fogo, 2004

Instrumentista (acordeão), compositor

Ao gravar aos 81 anos o seu primeiro e único disco, Minó di Mamá revelou-se como uma daquelas reservas do património musical cabo-verdiano que durante décadas permaneceram desconhecidas do grande público, apresentando ainda a peculiaridade de ser um dos poucos artistas dedicados ao acordeão na Ilha do Fogo. Embora afirmando que no Fogo não tinha “colegas” de instrumento, é verdade que durante a sua infância e adolescência não faltaram referências que contribuíssem para o encaminhar para a música, a começar pelo pai e a mãe, que faziam apresentações – ele no acordeão, ela a cantar – em troca de 20 escudos, valor que na época dava para comprar uma cabra.

Minó queria aprender, mas o pai não estava de acordo, pelo que mantinha a gaita bem guardada. O filho, por volta dos 15 anos, contra as suas determinações, vai buscá-la ao baú. “Este rapazinho não se livra de aprender a tocar”, conclui o pai, que segundo o músico chegava a bater-lhe para o afastar da música. Mas nada adiantou: “A única herança que tenho deles é o amor pelo toque”, recordaria Minó em entrevista ao jornalista Elisângelo Ramos em 1998 (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens), afirmando que o pouco que conseguiu amealhar foi graças à sua música.

Já aos 16 anos Minó di Mamá ganhava alguns tostões com o seu talento. A primeira peça que tocou tinha o título de Djedjê Laço, “um homem que tinha uma gaita de cor branca e cantava uma música a que deu o seu próprio nome”. Com Minó aconteceu o contrário. De tanto tocar uma música intitulada “Minó di Mamá” e de tanto as pessoas pedirem para que a tocasse, o título da música acabou por ser a sua alcunha.

Minó não é um compositor no sentido convencional, com um repertório predefinido, mas sim um “tocador”, que, convidado a fazer a animação de uma festa, toca temas populares ou improvisa a partir daquilo que o rodeia no momento – mesmo caso de Sema Lopi e Codé di Dona, em Santiago, cujas improvisações acabaram gravadas por outros intérpretes sem atenção à autoria. É também o caso das cantadeiras de finason, como Nácia Gomi e Nha Bibinha Cabral, entre outras, ou das cantadeiras de rafodju, que no Fogo teve o seu expoente máximo em Ana Procópio.

O único registo discográfico de Minó di Mamá é o CD Talaia Baxu, em cuja capa um texto da autoria de Fausto do Rosário afirma que o artista transporta “nas suas valsas, mazurcas, shottisch, atalaias-baixo toda a emotividade do foguense, toda a sua alma, toda a sua ironia e a sua vontade de antes quebrar que torcer”.

Discografia

Talaia Baxu, CD, Zé Orlando/Sons d’África, Amadora, 1998.

Composições

Bida; Ioty Pingo D´Ouro; Mara Bu Sancho; Minó di Mamá; Mundo Crêbu; Tchan das Caldeiras.

Ouvir

Colaborou na pesquisa: Elisângelo Ramos

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