Pitrinha

Por GN em

Pitrinha. Foto cedida por Francisco Sequeira

Francisco Marques Morais

Mindelo, São Vicente, 1909 – Glew, Argentina, 2005

Regente de banda, compositor

Se a família de Nho Pitra produziu muitos músicos, entre os quais o célebre Luís Morais, o seu filho Pitrinha foi, dentre aqueles de que temos notícias, o primeiro a se fazer notar. Em São Vicente, nos anos 1930, destacava-se como músico e compositor, como dá conta a imprensa da época.

Foi regente da Banda Municipal de São Vicente e da Banda dos Sokols – agremiação dedicada ao desporto e à educação cívica que marcou época na cidade. Em 1933, o programa de uma festa promovida pelo jornal Notícias de Cabo Verde, com sorteio de prémios, palestras e um filme, informa que a parte musical cabia a “um grupo de executantes da antiga Banda Municipal” sob a regência de Francisco Marques Morais. Entre os vários altos e baixos por que passou a banda, Pitrinha parece assumi-la num momento de crise. No repertório desta atuação, a publicidade da festa indica o nome de uma morna, “Nuna e Cunca”, da sua autoria (Notícias de Cabo Verde, 22.07.1933).

Cerca de um ano depois, o mesmo jornal informa que o município cedeu aos Sokols os instrumentos da extinta banda municipal, com os quais esta associação criou a sua própria banda, “sob a regência do Sr. Francisco Morais”, que deu o seu primeiro concerto a 27 de maio de 1934, na Praça Serpa Pinto, refereo mesmo jornal em 02.06.1934. No fim desse ano, esta banda animou o baile de réveillon do Eden Park (Notícias…, 15.01.1935) e terá possivelmente animado muitos outros, até pelo menos 1938, pois uma notícia dá conta de uma atuação deste grupo por ocasião do centenário do Mindelo (Notícias…  01.06.1938).

Mas a sua atuação como músico não se restringia a reger bandas. Pitrinha aparece a dirigir um jazz band em 1936, durante a passagem pelo Porto Grande do couraçado alemão Schlesien. Entre outras atividades houve um chá dançante em honra da oficialidade do navio, “dançando-se animadamente ao som de dois ‘jazz bands’: o do couraçado e o cabo-verdiano dirigido por Francisco Morais” (Notícias…, 15.11.1936).

Grupo Recreativo Monte dos Amores, 1936. Pitrinha aparece no destaque. Foto cedida por Francisco V. Sequeira

No ano anterior, o seu nome era referenciado pelo diário lisboeta O Século (03.06.1935) entre os de outros compositores cabo-verdianos de renome na altura, como B.Léza, Henrique de Pipi e José Bernardo Alfama, por ocasião de um sarau dedicado às ilhas organizado em Lisboa por aquele jornal.

Após essa fase, Pitrinha emigrou para o Senegal, onde pode-se supor que terá composto a sua conhecida morna “Traiçoeira de Dacar”. No início da década de 1950, partiu para a Argentina, onde se fixou definitivamente, mantendo intensa atividade como músico. Formou um grupo chamado Los Tropicos, que em outubro de 1955 tocou tangos e mornas numa matinée organizada pela Union Caboverdeana de Obra Social em benefício de B.Léza, quando este, já nos seus últimos anos de vida, se encontrava doente e em dificuldades financeiras. Um anúncio num jornal não identificado dá conta deste acontecimento (Dossier B.Léza, Arquivo Nacional de Cabo Verde).

Em nome do Conjunto Francisco M. Moraes, gravou uma série de seis EP, com temas populares, de outros autores e da sua própria autoria, como “Chorei demasiadamente”. Há alguns exemplares destes discos nos arquivos da RCV em São Vicente.

Grupo Recreativo Monte dos Amores, 1936. Pitrinha aparece no destaque. Foto cedida por Francisco V. Sequeira

Composições

Traiçoeira di Dacar; Padroeira de Nossa Senhora da Luz.

Ouvir

Colaborou na pesquisa: Francisco V. Sequeira

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