Zé Afonso

Por GN em

Zé Afonso, no Enclave, 2003. Foto: Gláucia Nogueira

José Manuel Oliveira Afonso

Mindelo, SV, 1959

Instrumentista (teclas), arranjador, compositor

Zé Afonso pertence ao grupo de músicos cabo-verdianos profissionalizados em Portugal, actuando desde a década de 1980 em estúdio e em palco. Antes disso, fez o percurso dos jovens músicos em São Vicente, tendo formado com Nhone Lima (voz), Armindo (guitarra) e Toy Paris (bateria) o seu primeiro grupo, em que tocava baixo. Filho de Pedro Afonso, português que foi um dos pioneiros da rádio em Cabo Verde, e de uma santantonense, desde criança mostrou interesse pela música. Por volta dos 11 anos, o pai ofereceu-lhe uma harmónica de sopro, o seu primeiro instrumento, que aprendeu a tocar de ouvido.

Em São Vicente, pertenceu ao Kolá, antes de ir para Praia, em 1976, para cumprir o serviço militar. Foi aí que recomeçou a tocar teclado, desta vez a sério. “No quartel Jaime Mota, fui dispensado do serviço militar por ser asmático. Mas o comandante Álvaro Dantas Tavares (comissário geral das Forças Armadas na altura) soube que eu estava lá e disse que eu ficava, sem fazer qualquer atividade física, mas como datilógrafo, porque o grupo dos militares precisava de um tecladista” (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens). Assim passou a fazer parte do grupo Voz di FARP. Nessa altura, tocou pontualmente com Os Tubarões, na ausência de Zeca Couto – anos depois, em Portugal, irá novamente actuar com o grupo, no concerto em homenagem a Zeca Afonso. Quando voltou para São Vicente teve uma rápida passagem pelo Cabosamba e, em finais de 1979, partiu para Lisboa.

Até 1985, ficou completamente afastado da música. Trabalhou nas obras, depois como condutor, até que um dia, passando por São Bento, encontrou-se com Tito Paris, que não via desde São Vicente. Foi então que começou a conviver com o meio cabo-verdiano, tocando aqui e acolá. Nessa época estudou durante 7 anos na Academia dos Amadores de Música, em Lisboa, e iniciou a sua vida profissional, atuando nos espaços de música ao vivo e também em estúdio, além de fazer arranjos.

Ainda nos anos 1980, participou com Teté Alhinho, Teck e outros no grupo Raio de Sol. É também desse período alguns trabalhos em que não se reconhece: com o título Africa Mix, aeditora Discosseteproduziu alguns medleys de “música africana” editados em cassetes. No primeiro deles, Zé Afonso aparece a cantar. Participa de outros mas o seu nome não aparece, por opção própria: “Era uma coisa muito comercial, não tinha nada de africano, era mais disco com rótulo de africano”.  Produziu também trabalhos para a Sons D’África e nos estúdios Gravisom participou em diversos trabalhos da chamada “música pimba”, em que assinava J.A.

Participou no primeiro disco de Leonel Almeida e no disco de rapsódias de Gardénia Benrós, em que fez os arranjos. Com Teté Alhinho, gravou o CD Sentires; com Celina Pereira, Harpejos e Gorjeios (em que assume a direção musical e os arranjos e canta num dos temas); e com Ana Firmino, o álbum Amor é tão Sabe. Produziu os discos de estréia de Lura e de Nancy Vieira. Em Portugal, acompanhou ao longo de anos diferentes artistas cabo-verdianos – com Bana, tocou ao longo de mais de 20 anos, realizando inúmeras digressões. Dany Silva, Celina Pereira, Tito Paris são outros exemplos. Acompanhou também com frequência artistas portugueses, e participou do projeto Sons da Fala, com Vitorino e Janita Salomé.

Depois de deixar Portugal e viver alguns anos em Angola, regressou a São Vicente em 2021. 

Discografia

  • Africa Mix, cassete, Discossete, Lisboa, [déc. 1980].
  • Participação vocal no CD Harpejos e Gorjeios, de Celina Pereira, 1999.
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