Nancy Vieira

Por GN em 16 de Março, 202116 de Março, 2021

Nancy Adelaide Vieira

Bissau, Guiné-Bissau, 1975

Cantora

A carreira de Nancy Vieira como cantora começa numa brincadeira. Um amigo que ia participar num concurso convida-a para ir a um ensaio, ela a certa altura pega no microfone e canta. Então disseram: porque não participas? Era o concurso Vedetas do If (If era uma discoteca com música africana em Lisboa, nos anos 1990). A jovem, na altura estudante de sociologia, acaba por sair vencedora, e o prémio da competição era a gravação de um disco. É assim que sai, em 1996, Nos raça, com produção de Zé Afonso. “Cantar era uma paixão, mas as prioridades eram os estudos, trabalhar, etc. Não estava à espera”, diz em Cabo Verde & a Música-Dicionário de Personagens. Contudo, esteve sempre rodeada de música, já que o pai toca vários instrumentos e inclusive tentou ensinar-lhe o violão. Os irmãos, estudando em Cuba, traziam discos nas férias, que se somavam aos brasileiros, de Bossa Nova e de cantores como Ângela Maria e Nelson Gonçalves.

Quase uma década depois do primeiro álbum, Nancy lança Segred, com produção e arranjos de Toy Vieira, e três anos depois Lus, título de um tema de Vadú, produzido pelo peruano Jorge Cervantes. Resultado do trabalho com Nando Andrade, No amá é o quarto álbum. Com eventuais incursões, em particular no segundo e terceiro álbuns, pelo batuku, funaná e kolá Sanjon, entre outros géneros, o fio condutor da discografia de Nancy Vieira é o binómio morna-koladera, num padrão acústico-intimista em que a sua voz se encaixa com subtileza.

À parte os seus trabalhos a solo, em 2008/2009, a cantora participou no álbum Pássaro cego, projeto dos portugueses Manuel Paulo (pianista) e João Monge (letras) – membros do extinto Ala dos Namorados – em que interpreta quatro temas, um deles em dueto com o brasileiro Chico César, em que ambos cantam em português e em cabo-verdiano. Antes disso gravara um dueto com Rui Veloso, em 2005, no seu álbum A espuma das canções. Em 2013 a premiação Cabo Verde Music Awards considerou um tema de Mário Lúcio gravado por Nancy, Maylen, a melhor koladera do ano anterior.

Nascida na Guiné-Bissau e criada na cidade da Praia, onde o seu pai, Herculano Vieira, foi ministro dos Transportes de 1975 até 1986, Nancy transfere-se com a família para Portugal em 1989, onde vive desde então. A sociologia acabou por ficar para trás ao assumir a vida artística a tempo inteiro. A partir de 2014, participou da formação Cesária Évora Orchestra, que realizou uma série de atuações.

Durante a gravação de “Segred” (2002) com Toy Vieira e Vaiss (fotos: Gláucia Nogueira). Embaixo, com banda, durante tournée de “No Amá” (fonte: Facebook)

Discografia

Nos Raça, CD, Disconorte, Lisboa, 1996. Reedição em 2016 pela Sons d’África.
Segred, CD, Praça Nova, Lisboa, 2004.
Lus, CD, HM Música, Lisboa, 2007.
No amá, CD, Harmonia, São Vicente, 2011.
Manhã Florida, Lusafrica, Paris, 2018.
Participação no CD de Manuel Paulo Pássaro Cego, 2009, com os temas “A ilha da fé”, “A ilha dos amantes”, “Pássaro cego” e “A ilha dos outros”.
Participação no CD de Rui Veloso A espuma das canções a interpretar o bolero “Canção de alterne”.