Finaçon

Por GN em

Atuação do grupo na Festa do Senhor do Mundo, em Picos, Santiago (1986), com a sua primeira formação / Fonte: Yah-Yass (Facebook)

Grupo, 1985 – 1995

Em 1985, os irmãos cantores e compositores Zeca di Nha Reinalda e Zezé di Nha Reinalda, o baterista José Augusto Timas e o guitarrista Zequinha Magra – todos antigos membros do Bulimundo, com diferentes períodos de permanência – juntam-se, para formar o Finaçon, a outros músicos também rodados em diferentes grupos: Yah-Yass (baixo) e Tony di Cando (teclas), que tinham participado do Cimbodiana, e Zé Lucky (guitarra), que vinha do Abel Djassi.

Nesse mesmo ano, editam o seu primeiro disco, Horizonte, a que se segue, dois anos depois, Rabecindade, ambos gravados em Portugal. Este último conta com outros dois músicos, Carlitos (metais) e Amanhã (percussão). Dotorado, de 1989, revela uma nova formação – para além de Zeca e Zezé, únicos que se mantêm da anterior, há Djinho Barbosa (teclados), Nelson Costa (guitarra elétrica e acústica) e Paló (baixo e programação de bateria) – e traz um dos maiores sucessos do grupo, a composição intitulada Entri spada e paredi, mas cujo refrão traz a frase pela qual será sempre lembrada: “Feia, cabelo bedjo”. Paralelamente à gravação dos seus discos, em que a aposta principal é o funaná, Finaçon é um grupo de baile, com um repertório de standards americanos, reggaes e ritmos dançantes cabo-verdianos.

No início dos anos 1990, surge a oportunidade, falhada, do que poderia ser um salto quanto a uma repercussão internacional do seu trabalho. Finaçon é descoberto na Praia pela realizadora de televisão Ariel de Bigault (que virá a compilar 40 anos de música cabo-verdiana no CD duplo Cap-Vert: Anthologie 1959-1992).

Nessa época, ainda estão frescos na memória dos produtores dois êxitos internacionais produzidos em França: Yéké, do mandinga Mory Kanté, e a sensual lambada com o grupo franco-brasileiro Kaoma. A editora Mélodie, que vinha investindo forte na música africana havia alguns anos, aposta no grupo cabo-verdiano e edita em 1990 uma compilação que inclui músicas de Dotorado e Rabecindade e dois temas gravados na altura, com arranjos que contam com a participação do zairense Ray Lema. Produz, um ano depois, o CD Farol – gravado pela formação Zezé e Zeca (voz), Nelson Costa e Dick d’Ano Nobo (guitarras), Paló (baixo e programação de bateria), Timas (bateria), Kim Alves (teclados) e Vavá de Santinha (técnica).

Finaçon faz a primeira parte do concerto de Gilberto Gil no Zénith, em Paris, em 1991, e no ano seguinte participa de um festival internacional na Bahia. Contudo, apesar do seu funaná eletrizante, a imagem do grupo talvez não seja suficientemente exótica ou sedutora para convencer outras plateias que aquela do seu habitat e fica por aí a tentativa da sua internacionalização. “Não conseguimos o som ideal (…) Os técnicos estavam mais habituados a trabalhar com músicos das Antilhas. Por outro lado, os franceses dificilmente aceitam a música rápida. E o nosso funaná é muito rápido”, justifica Zezé di Nha Reinalda em entrevista ao jornal português Público, em março de 1995.

Simplicidade (1994) e Kel ki ta da ta da (1995) são os álbuns que se seguem. Este último, que teve a particularidade de o videoclipe com o tema-título ter sido gravado no vulcão da Ilha do Fogo no dia em que começou a erupção de Abril de 1995, foi notícia também pelo patrocínio que recebeu de uma instituição estatal, o INATUR, desagradando o governo de então, já que o disco trazia, como aliás outros do grupo, letras bastante críticas à política e aos políticos. A seguir a esta gravação, saem dois elementos, Kim Alves e Dick, que emigram para os EUA, e, depois de algum tempo em stand-by, nada acontece. Zeca e Zezé gravam trabalhos individuais, o primeiro oscilando entre o zouk e o funaná a ferro e gaita que entretanto despontou.

Os dois irmãos contribuíram com a maior parte do repertório do Finaçon, que sempre privilegiou compositores de Santiago, como Zé Henrique, Ney Fernandes, Kaká Barbosa, Kim de Santiago, Fefé di Calbicera e os veteranos Codé di Dona e Nácia Gomi. Um tema desta matriarca do batuku dá título ao primeiro LP do grupo. Para além de ter o funaná como prato forte nas suas gravações, encontram-se na sua discografia incursões pelo ritmo do batuku e pela sonoridade das festividades da tabanka.

Discografia

  • Horizonte, LP, Comissão 10º Aniversário da Independência, Praia, 1985.
  • Rabecindade, LP, e/a, Praia, 1987.
  • Dotorado, LP, e/a, Praia, 1989.
  • Funaná (compilação), CD, Mélodie, Paris, 1990.
  • Farol, CD, Mélodie, Paris, 1992.
  • Simplicidade, CD, Mélodie, Paris, 1994.
  • Kel ki ta da ta da, CD, Sonovox, Lisboa, 1995.

Ver e ouvir

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