Carlos Matos

Por D O em

Carlos Matos. Foto: Fernando Matos

Carlos José Matos

Roterdão, Holanda, 1972

Instrumentista (piano), compositor, arranjador, docente, maestro

Filho de mindelenses emigrados em Roterdão e com vários músicos na família (é primo de Luís Morais), Carlos Matos interessa-se por música ainda criança. Estudou no Conservatório de Música de Roterdão (CODARTS) e nesse aspeto foi um pioneiro no contexto da comunidade cabo-verdiana. Formou-se como solista e docente e é mestre em Arte Musical (Master Degree of Music). Nos seus estudos, dedicou especial atenção à música sul-americana – com a qual tinha contacto desde muito cedo, pois o pai era marítimo e trazia sempre discos de música latina –, além do jazz e da música erudita para piano.

Nos anos 1990, ao mesmo tempo que frequentava o conservatório, tocava teclados em grupos de jovens cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana, como Rabelados, que considera ter sido “uma escola musicalmente, para conhecer o funaná” (Cabo Verde & a Música Dicionário de Personagens), e Koladance. Com este grupo Carlos Matos visitou Cabo Verde pela primeira vez, em 1992, participando no festival da Baía das Gatas. “Me sinto mais cabo-verdiano depois disso, pois há umas coisas que eu não conhecia no exterior, encaixaram em mim como um puzzle, umas peças que estavam faltando.”

Apesar do seu pouco contacto com Cabo Verde, mesmo por parte dos pais, que haviam emigrado muito jovens e não viviam os costumes do arquipélago de forma intensa, Carlos Matos revela – no seu discurso e nos trabalhos que realiza – preocupação em aprofundar-se nos aspetos fundamentais da música cabo-verdiana, nomeadamente os géneros tradicionais, para a partir daí desenvolver uma linguagem própria, inovando a partir de fusões e influências diversas. “Não estou ocupado só com música de Cabo Verde mas com outras também, porque gosto de aprender sempre, ter uma visão aberta para colocar coisas também na música de Cabo Verde. Sou um produto da emigração e acho que a gente necessita explorar isso”, refere em Cabo Verde & a Música Dicionário de Personagens.

Assim, ao longo da sua carreira, Carlos Matos foi atuando com grupos de jazz, salsa, gospel e música brasileira e portuguesa. Entre 1995 e 1997 participou, com Jacqueline Fortes, Manuel de Candinho e Manu Ramalho, do grupo Nostalgia, que foi a sua primeira experiência com a música cabo-verdiana, num formato acústico. As composições instrumentais gravadas pelo grupo no seu único CD, Belorizonte (“Nostalgia”, “Consolação” e “Belorizonte”) são da sua autoria.

Depois veio a fundar o seu próprio grupo, Carlos Matos Band, que acompanhou artistas como Ildo Lobo, Luís Morais, Manuel d’Novas, Titina, Tito Paris, Mendes Brothers, Suzana Lubrano, Américo Brito, entre outros, em eventos na Holanda. Em 1999, o grupo foi convidado para o Festival da Baía das Gatas e fez uma tournée pelas ilhas.

Além do trabalho como docente – no âmbito do qual realiza workshops sobre música de Cabo Verde no Conservatório de Roterdão e em Utrecht – gravou a acompanhar artistas como Gérard Mendes, Meno Pecha, Beto Dias, Chando Graciosa, Gil Semedo, Dina Medina, Martchín, Dudu Araújo e Elida Almeida, entre outros, em alguns casos assumindo os arranjos e produção musical.

Em 2006 editou o seu primeiro disco a solo, Caboverdianismo, dedicado a Duca de Nho Pitra, seu familiar, que o inspirou e estimulou a estudar música. No disco, conta com a participação de Luís MoraisPaulino Vieira e Boy Gé Mendes. O título significa “música de Cabo Verde em movimento”, diz Carlos Matos a Cabo Verde & a Música – Museu Virtual, ao comentar o seu segundo álbum, de 2022, intitulado simplesmente Piano Solo. Segundo o músico, a proposta é a mesma: a música de Cabo Verde “em movimento”, com o piano em destaque e em ambos temas da sua autoria e composições cabo-verdianas bem conhecidas.

Pondo em prática ideias de fusão entre a música cabo-verdiana e sonoridades latino-americanas, criou o grupo Cabo Cuba Jazz, que gravou o CD Rikeza e Valor (2011), em que um toque latino envolve os temas cabo-verdianos, além de composições inéditas. O grupo não gravou mais desde então mas continua a fazer apresentações.

Em 2014, Carlos Matos participou na criação da Orquestra Nacional de Cabo Verde, como maestro e por vezes solista ao piano. Durante a pandemia de Covid, um projeto musical à distância ligou-o a outro pianista, Humberto Ramos, radicado em Portugal, e juntos produziram uma rapsódia de mornas, lançado com single nas plataformas digitais. Com Nadia Alves, em 2022 lançou o single Anjo Negro, tema de Paulino Vieira e Luís Lima.

Mais pormenores sobre a sua carreira encontram-se no seu site: www.carlos-matos.com.

Carlos Matos regendo a ONCV, no festival da Baía das Gatas, 2015. Fonte: Facebook

Discografia

  • Caboverdianismo, CD, Matosmusic, Roterdão, 2006. 
  • Rikeza y valor, CD, Timbazo/Matosmusic, Roterdão, 2011. Álbum do Cabo Cuba Jazz, de que Carlos Matos é um dos fundadores e participa como músico (piano, teclados) e produtor. 
  • Corason Africano, Timbazo/Matosmusic, Roterdão, 2015.
  • Morna Rapshody, com Humberto Ramos, single digital, 2020.
  • Anjo Negro, com Nadia Alves, single digital, 2022.
  • Piano Solo, CD, Matosmusic, Roterdão, 2022.

Composições

Belorizonte; Brilho da noite; Consolação; Contratempo; Dança dos grilos; Entrada d´festa; Hosana; Mãe Rosa di nos vida; Montana; Nostalgia; Ola tchuva; Seven; Si bu kren (parceria com Meno Pecha)

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